domingo, 30 de setembro de 2007

As Coisas Maravilhosas de Sarah Blasko

Sarah Blasko é "menina linda", diria eu carinhosamente. Pouco conhecida por aqui (pra variar), mas ela chama minha atenção já há, pelo menos, 2 anos.

Sua voz é uma coisa maravilhosa, pra mim, desde que a ouvi cantando Flame Trees, regravação de seu conterrâneo australiano Cold Chiesel.

Outra coisa maravilhosa é este single de Sarah, do seu mais recente CD What The Sea Wants, The Sea Will Have.

Amazing Things, como tanto seremos...

Prosa, Tabaco e Amor


Prosa, Tabaco e Amor: esquisita tríade, mas bem sincera quando tratamos do escritor peruano, ainda pouco conhecido no Brasil, Julio Ramón Ribeyro.
Foi lançada há pouco, pela Cosac Naify, uma bela edição de seleção de contos do autor, entitulada Só Para Fumantes. Este lançamento faz parte da coleção Prosa do Observatório da Cosac Naify. Com esta coleção, a Cosac pretende reunir escritos de autores latino-americanos de todas as épocas, que abranjam também todos os segmentos das artes, tal empreitada carregada pelo crítico literário Davi Arrigucci Jr.
Acabei de ler o livro, que contém contos de um sabor parecido àquele biscoito molhado ao leite num dia qualquer onde as temperaturas mais baixas o impedem de fazer qualquer coisa fora dos domínios condomínicos de seu lar. Ah, é assim, sim. Eu mesmo não conhecia o autor até ler esta jóia lançada agora. Julio Ribeyro é de uma simplicidade que destrói a vontade de buscar aventuras magnânimas dentro da literatura, um texto que cheira chocolate ao leite, é básico, essencial e de gosto tão direto.
A seleta de contos feita pela tradutora Laura Janina Hosiasson inicia com o conto homônimo da obra, Só Para Fumantes, onde, de um viés bem autobiográfico, o autor repassa as saborias, gostos e prazeres, além das angústias, do vício do fumo, da indolor escravidão que tal vício provoca nele e a importância deste no delinear de toda a vida.
O segundo conto, Urubus Sem Penas, trata da vida de duas crianças, Efraim e Enrique, que vivem para fazer as coisas para o avô, seu Santos, este manco, praticamente escraviza os meninos para lhe servirem. O espaço é lúgubre e cruel, pois, os meninos têm que diariamente ir ao lixão para o avô, afim de fazerem buscas em meio aos entulhos e apodrecimentos, para a troca, venda e alimentação, além da engorda do porco Pascual, pelo qual seu Santos tem muita preocupação em inchar, para que possa depois vendê-lo por uma boa quantia.
Seu Santos às vezes mostra um lado monstruoso, em algumas situações nos causa pena, mas uma pena enraivecida, no sentido agudo da palavra, pois, para este não há estreitos e limites para que atinja o objetivo da engorda do porco. O relato segue, digno de uma fábula dos andes, é dolorido é belo, tratando de uma crueldade difusa no cotidiano aceita por todos nós, que fazemos vistas grossas. Situação muito particular a todos nós, vivamos dos lixões ou não.
Os dois primeiros contos já valeriam a leitura, mas os demais que se sucedem servirão para afirmar a fineza do autor peruano.
Surpresas e revelações nos surpreendem em todos os contos, e simplicidades arrebatadoras e momentos, com a prosa de Ribeyro não seria diferente. Agora quero relê-lo bem e sempre, como outros não lidos e esquecidos. Sem dúvida, está no patamar de Vargas Llosa e José Maria Árguedas, dois outros nomes maiúsculos da literatura peruana, mas Ribeyro ainda não é reconhecido ainda como tal, principalmente no Brasil, onde Só Para Fumantes é o primeiro livro do autor.
Viva as letras dos vinhos, dos tabacos! Com a de Ribeyro estamos, ainda que não estejamos envolvidos por nenhum narcótico, estamos então abençoados e entorpecidos com a felicidade poética da densidade tão simples da palavra sentida bem no fundo e extravazada, ainda mais assim, com amor em filtro, em copo...

Palhaços Vs. Homens

Eu ainda não aprendi a gostar do Arctic Monkeys, no dia 28 deste mês de outubro terei uma chance, no Tim Festival 2007, mas, independentemente de gostar deles, não consegui ser indiferente ao clipe da música Fluorescent Adolescent, novo single de trabalho da banda.

É travada uma batalha entre homens e palhaços. É isso, homens versus palhaços, como se estes fossem de uma outra espécie ou como se fossem seres de outra natureza; o clipe transmite justamente isso: palhaços revoltados, como se procurassem uma vingança, carregada de porradas nos homens "seres superiores" de verdade.

Muita sensibilidade e criatividade nesta produção, que, sem dúvida, é um dos mais originais dos últimos que vi por aí.

O olhar não ordinário poderá perceber que a transmissão da mensagem não é a apologia à violência para combater algo ou diferenças, sejam eles quais forem, mas, exibe uma certa mágoa dos palhaços, e não só raiva, dos homens, como se a condição de palhaço em determinado ponto já não fosse respeitada pelos homens. É estranho, é um pouco surreal, mas é uma linguagem figurativa para tratar sobre as diferenças ou sobre qualquer coisa que faça referência a estas.
Na minha opinião pessoal, os palhaços procuram, talvez, um pouco mais de respeito e vêem-se sem armas para brigar por este, a não ser a cara pintada, mas esta parece não ser levada em consideração já há muito tempo. Com certa sabedoria, das diferenças, entre homens e palhaços retiramos alguns ensinamentos da vida, enquanto os palhaços ousam nos arrancar sorrisos, como o que sempre fizeram comigo e contigo, desde pequenos, aos homens sobra arrogância, neste embate, como se os palhaços tivessem já cansados de verdade desta realidade.
Vê:


domingo, 23 de setembro de 2007

Rufus, The Gay Messiah

O mais recente álbum de Rufus Wainwright foi gravado na Alemanha, em Berlim, onde este blogueiro planeja aportar-se em breve... Bem, Rufus passou a temporada na Bundesrepublik gravando, produzindo (o primeiro que ele mesmo produziu, dos cinco álbuns lançados), visitando palácios barrocos, e palácio barroco é o que mais tem na Alemanha, o templo da música produzida nesta época, para citar os mais conhecidos, Schütz, Bach e Häendel eram de lá. Rufus, parece-me um pouco desolado, tal quase como Michael Stipe no Around the Sun, o último de estúdio do R.E.M.
Rufus continua com a sua veia operística afinadíssima. Ele consegue estabelecer entre a ópera e a música clássica e a música pop um diálogo produtivo e não só o faz, mas como o faz com qualidade. Citações de Bolero de Ravel e Fantasma da Ópera são evidenciadas em algumas das citações correntes. Belíssimas! (mania superlativa). Rufus cria, às vezes, um paralelo da música de cabaret do pórtico parisiense do início do século passado com aquela de saloon, dos perdidos e findos do Texas. E todas as composições são carregadas de um lirismo carregado, com melodias que chegam, às vezes, causar sede de tão doces. Rufus Wainwright sabe dosar muito bem isso, e no álbum Release the Stars, em canções como Going To A Town, aborda um certo ceticismo sobre a América, onde dá-lhe um leve contorno político.
Rufus vem de lá do norte, como muitos, é canadense de nascimento, mas foi criado pela mãe (a cantora folk/country Kate McGarrigle) na "América" de Going To A Town e, como o próprio título da canção diz, ele parece estar de malas prontas pra voltar pra casa, a América tornou-se uma grande desilusão. Cansou. A produção do álbum na Alemanha deve estar relacionado a este desgaste, além, é claro, do namorado dele, como Schütz, Bach e Häendel, também ser de lá.

Além de filho da cantora canadense Kate McGarrigle, Rufus é filho de Loudon Wainwright III, figura marcante na cena country canadense dos anos 70, além de ter a também cantora Martha Wainwright como irmã caçula. Esta é dona de um timbre de voz típico das entoadas dos ranchos do oeste americano, muito bom de se ouvir, de se ter.

Rufus tende a seguir um conceito de qualidade apregoado e produzido por poucos hoje no show bussiness, no mainstream ou na cena independente, tal como Morrissey, Radiohead e Björk, que, por mais estranho que possam ser os álbuns, por mais suspeitas que sejam as veredas que seguem ou mesmo a popularidade crescente que atingem com o tempo, a qualidade e a proposta artística deles não se alteram, arrebanhando, assim, ainda mais admiradores, incluindo muitos céticos de carteirinha.

À portuguesa, esperamos a oportunidade de vê-lo aportando por estes trópicos.
Só pra pincelar sobre o filho desta família que canta, aqui segue um pequeno video de Rufus cantando com a irmã Martha, a canção é April Fools (data equivalente ao Dia da Mentira no Brasil), uma bonita canção do primeiro disco homônimo de Rufus, que ficou ainda mais bela no encontro de vozes desta linhagem:





Contar os dias, as horas, o dinheiro...




...vale contar com a Leslie Feist.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Um lixo!

"Cadê o lixo da estação? Quarta-feira, 19 de setembro de 2007

"Mantenha tudo limpo, conservado; seja ecologicamente correto, jogue o lixo no lixo, faça a coleta seletiva, recicle, reutilize, reuse, redistribua. Utensílios que a princípio não serviriam pra nada podem ser de muita utilidade pra você ou pra outros; coloque a cachola pra funcionar e vai perceber que tudo pode ser renovado e útil de alguma maneira, ainda que não da mesma maneira da idéia original." É o discurso, hoje, muito utilizado por várias instituições e setores do poder público que parecem preocupados com o futuro do mundo tão cheio de lixo e poluição.

É tudo muito bonito, discursos até mais polidos que os carros das lojas da Cidade Jardim: reluzentes! Mas o método é totalmente falho, pois, se querem que coloquemos os lixos nos lixos, deem-nos lixos, porra!

Na quarta-feira, voltando da faculdade, por volta da meia-noite, estava ainda no centro de Sampa, mas não havia nada acontecendo no meu coração, apenas no meu estômago e me senti acoado pela vontade de comer um espécime qualquer de doce, especificamente doce de milho. Menos fome, mais desejo.

Não sou de comprar coisas de comer na rua, não mesmo. Porcarias já me bastam as minhas próprias, e ainda ter de comprá-las e colocar em risco minha saúde, é um alento a auto-destruição. Mas, dessa vez foi inevitável, o vapor de milho que embaçou o meu septo nasal tão logo desci do ônibus enquanto já me encaminhava à estação do metrô, bateu na região do córtex cerebral - região no cérebro responsável pelo reconhecimento e decodificação dos aromas - e a lucidez de quem planificava somente goles d'água quando chegasse em casa (o calor era enorme), desfez e estava então com uma vontade amarga (vontade contrária ao que se quer, mas, muitas vezes instintiva) e arredei à escada rolante que descia, dei ré e fui comprar o famigerado doce de milho.

Lá estava eu, com o cural embebido em leite condensado, como se fosse dono de uma preciosidade rara, mas era só a manifestação de um desejo bobo de gozar uma vontade e de vê-la tão nítida assim, provocando risinhos, que outros imaginariam ser de loucura (que não deixava de ser, de algum modo).

O pote morno com o doce parecia tão quente naquela já tão quente noite, batia 31° em algum dos relógios da Consolação... Tudo era um absurdo, o calor, a vontade, o doce, a hora, o local, mas de absurdo em absurdo que vamos enchendo nossas vidas tão normais com um pouco de graça e alguma magia. A minha magia era um prazer de comer ou só engolir aquele doce, que podia até mesmo ser / estar azedo, mas azedume nenhum superaria o condicionamento cerebral a que fui submetido logo que desci do ônibus e senti o bafo do milho, o cheiro de espiga que lembrou o quintal do meu avô, cheiozinho e repleto de pés de milho. Lembrei-me de como me escondia por aqueles pés e como me entertia entre aquelas espigas verdes tão apáticas, que ninguém dizia que depois poderiam ser desnudadas e amassadinhas e adocicadas para fazer doces tão gostosos como aquele com que me drogava no centro da cidade, naquele começo de madrugada.

Mas tudo tem um fim, até onde me ensinaram. O doce também tinha o seu. O pote do doce tinha fundo, facilmente visível, então, já sabia desde o começo que o prazer seria breve, o doce logo deixaria de ser doce de milho para virar então lembrança e, porque não, também doce?

O resultados de nossos prazeres hoje estão estritamente ligados a sobras e restos: desde a "doce" pizza de sábado, dela sobram as bordas, as azeitonas e a caixa; do chocolate, sobra o papel de estanho; das noites de amor, fica o látex; dos belos momentos da vida, as lembranças. Das lembranças damos um jeito e guardamos apertadas dentro da gente, mas de todos os outros precisamos nos desfazer de forma sustentável a não "machucar" o ecossistema. O pote e a colherinha de polietireno eram as sobras do sinóptico e tepe doce de milho, mas não havia onde depositá-los, quando enfim exterminei com o doce já na plataforma do metrô. Percorri toda a plataforma através de uma latinha ou um ensaio de uma. Cadê o lixo?

Dizem que precisa jogar o lixo no lixo mas não lhe dão lixo e então é luxo pedir felicidade pra depositar na vida? É extravagância pedir livros e escolas para as crianças, se não dão se quer um lixo pra depositar potes e colherinhas de doce de milho, no metrô? Logo o metrô, lugar público freqüentado por milhares de pessoas diariamente, numa de suas estações mais movimentadas, a Anhangabaú, não tinha umazinha lata de lixo lá? Pra mim, vão às favas os discursos ecológicos e hipócritas dos subsecretários das bundas escatológicas...

Muitas das pregações de diversos setores sociais não resultam no plano prático desses próprios setores. O poder público é um grande marqueteiro de movimento e causa sociais, mas é incapaz de desempenhar um política honesta de reciclagem e de orientação das toneladas de lixo que são produzidas nas megalópoles como São Paulo. Uma simples lata de lixo (na verdade, a ausência dela) mote do texto, onde doce de milho é o leitmotiv, já que sem o doce não haveria pote nem colherinha, não haveria sobra, assim, não recorreria ao lixo inexistente para me desfazer dele, não ficaria puto e não estava nem aí pra isso e não pararia por vinte minutos pra escrever isso aqui. Claro que eu não joguei o pote e a colherinha no chão, esperei até o desembarque e procurei a primeira lata de lixo para me desfazer do pote e da colherinha do doce de milho.

Doce de milho, motivo de divagação e teoria ética para a busca de um mundo mais equilibrado, não poderia nem supor, apenas um doce de milho...

*

No Brasil, conscientizações sociais e ecológicas são assuntos de alarde, pela falta de educação e da falta de qualidade da pouca que existe. Sem a instrução adequada, torna-se muito mais complicado as pessoas absorverem as necessidades para se estabelecer uma comunidade verdadeiramente sustentável, assim, quando tem lixo nas mãos e não encontram uma lata de lixo, o lixo acaba nas ruas, nas calçadas, ou mesmo, em casos como o meu, nas plataformas do metrô ou dentro dos vagões.

Muitas preocupações pra já, para a nossa e para as outras gerações, para as crianças que estão aí e para aquelas que virão das trocas de chocolates e papel de estanho na praça, das sessões de filmes, com as sobras da pizza; e dos látex que sobrarão nas estantes das farmácias...

domingo, 16 de setembro de 2007

"Goodbye, I’ll be coming when you open your eyes..."

A noite deste domingo está na minha escrivaninha: um alemão Günter Grass, uma gramática alemã, alguns esboços e estudos e sínteses da literatura desse moço aí... Novela alemã do pós-guerra são as atividades acadêmicas resistentes de domingo finito. Para suavizar, enquanto isso, ouço The Postmarks: relaxo e agradeço.
Poderia ser mais um desses grupos dos últimos anos de músicas alegrinhas, mas The Postmarks é e também é mais. A cantante Tim Yehezkely, segue a escola de Glasgow, de vocalistas de entoadas sessentistas e de vozes agridoces. Mas o pop do grupo é sofisticado, portanto, não cai no modernismo gratuito ou da onda hype de ser retrô e fazer releituras ou rememorar décadas passadas através da música só porque é moda e é "legal".
O primeiro verso do primeiro disco do grupo sinaliza: Goodbye, I’ll be coming when you open your eyes. Fecho os olhos como crença pia de que isso aconteceria de verdade. De verdade é a bela sensação provocada pela voz de Tim, compondo um noveau pop não trivial.

The Postmarks é um trio de Miami, e Tim confessa a sua predileção por compositores como Burt Bacharach e Brian Wilson e busca "acrescentá-los" na produção do trio.

Quando a música traz um toque de frescor sem ser enjoativa, dizem que é perfeita para domingos ensolarados, talvez, mas o efeito maior do The Postmarks é mesmo ajudar a delinear o pensamento sobre Grass, gramática e outras levadas da academia... e a minha noite de domingo, ou melhor, meu domingo enluarado.
Clip da canção Goodbye:


Re-visitando-me em películas (1): O Mágico de Oz

Parece ser uma citação mesmo óbvia, a de que O Mágico de Oz está entre os filmes que marcaram a minha vida singularmente. Não é possível sintetizar em poucos argumentos as imagens de Dortothy com o seu vestido frou-frou sendo "carregada" pelo redemoinho, ainda com aquela fotografia sépia. E quando "desembarca" da casa e se vê rodeada de um colorido cheio de energia emanado pela natureza da terra do Munchkins, e então das canções entoadas na Cidade da Esmeralda pelo caminho dos tijolos amarelos? Sessões da Tarde felizes e muito coloridas com as canções inesquecíveis na voz da ainda adolescente Judy Garland.
Adulto, revejo este filme talvez com uma empatia ainda maior do que quando criança, pois, sempre me achei um pouco reticente sobre determinadas fantasias e acabava ficando impaciente com a covardia do Leão ou com a fragilidade do Espantalho. Filme de cores extremamente vibrantes, mas, que já vem com um viés de lição de moral, no mais consagrado modo de La Fontaine. O Mágico de Oz é um típico filme daqueles que "não era pra ser", pois foi rodado na época em que os grandes estúdios conduziam à mão-de-ferro as suas produções e pouco restava ao "cinema autoral" dos diretores, tão reivindicado pelos diretores posteriores, como Orson Welles e os franceses dos anos 60. Não à toa, antes de estabilizar-se com Victor Fleming na direção, o filme já havia passado pela mão de outros três, que pareciam não atender a filosofia artística da MGM na ocasião. Mas, embora parecesse desorganização por parte da MGM, o trabalho final, observa-se que em nenhum momento o filme desnivela-se, sempre mantendo um alto padrão artístico e na linguagem bem elaborada para o cinema, com base no livro de Lyman Frank Baum. Talvez, o filme não seja tão inocente quanto se pensa, mas, não podemos ignorar o seu poder de persuasão e beleza, nos vindos fins dos anos 30 (precisamente 1939) quando a tecnologia Technicolor se aperfeiçoava, consagrada enfim a partir de O Mágico de Oz e o E o Vento Levou, da mesma época.
Somewhere over the rainbow, way up high
There's a land that I've heard of
once in a lullaby.
A saga de Toto e Dorothy é um claro exemplo de que filmes infantis não precisam ser imbecis para conquistarem crianças e se universalizarem, como enraigado na mente de muitos produtores e diretores de nossa época.

Ah, e mais óbvio e clichê só mesmo citando O Mágico de Oz e terminar pincelando com o verso tão já decorado e conhecido da canção Over The Rainbow... Mas minha vida é mesmo um clichê.

Música

É. Não citei a música. Mas cito agora. Música primeiro estímulo desde o ventre, então, compõe a sacra jornada, libério existencial da vida tão efêmera. Vinte e oito entre músicos, canções e álbuns que me compuseram até esse dia...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Re-visitando-me




Esta história de revisita, de retorno, de repensar, de rememorar, de rever, de "re" alguma coisa é motivo para empreitadas várias: "ah, chegou a era de me rever e o momento de me reencontrar, por isso nessa viagem preciso me redescobrir" Ah... Exasperações, bufões à parte, bah! (imitando um Odin gaúcho dos comics) vamos ser enxutos, o eterno reencontro do momento agora com o momento passado é uma necessidade antiga e que nunca será extingüida. A nossa identidade reside naquilo que fomos, fizemos e representamos, ainda que físicos e filósofos teimem sobre a teoria do eterno presente. Do presente sem futuro, sem passado. Mas o presente só é o que é por que algo foi e por que será algo que ainda não é. Bom, deixa pra lá, assim, nossas divagações sobre essa nossa alimentação infinita de passado é fisiológico, ainda que não tenham dado nome a essa doença que todos nós possuímos, a de crer em passado, presente e futuro, a de crer no resultado e na interferência imediata de um em outro.

Passado ou futuro, não importa, nessa época de turbilhões de informações e mui representativa dos vinte e oito, como diz a premissa astrológica, parece estabelecer um marco decisivo na vida de quem chega nele. Pensei, em certo momento, como poderia fazer a tal revisita da vida, com uma viagem? indo à lugares da infância? Ir para um lugar distante e gastar as tardes a fazer meia, reservar um tempo para que se possa, enfim, "repensar" sobre os momentos diversos da vida que soam ainda como um zumbido no ouvido daquelas horas inesquecidas no barulho de todo o sempre. Estive pensando em "rever" de algum modo tudo isso por meio de coisas cotidianas, é. Afinal, desde que nascemos somos bombardeado por elas, e são essas que verdadeiramente preenchem a grande maioria das pessoas na vida.

Nos bombardeam com músicas, filmes, livros, passeios, pessoas, doces, pessoas, tristezas, alegrias, caminhos, sons, fotografias, olhares, imagens, carinhos, trejeitos, risos, decepções... É um universo paralelo este imaginado ao universo vivido, e neste universo, obviamente, só poderiam existir as coisas boas, mas, o vivido é muito mais sacana e imparcial. As sínteses de um universo sintético paralelo desenrola-se nos filmes que encenamos e registramos, nas histórias que inventamos e contamos... Então por que razão não (se) autobiografar por meio deles: filmes, livros cheios de sensações diversas colorizadas ou esbranquiçadas ou acinzentadas, de acordo com o volume de suspiros e da quantidade de sensação carregada neles, quantidade de motivos impregnados.


No decorrer da existência deste blog, o dono dele elaborará um remembramento de todas as coisas vividas por meio de lidos e assistidos, ou seja, através de livros e filmes, que serão apresentados e discorridos sem critério de ranqueamento ou de cronologia, mas sim serão citadas obras que tiveram importância e foram, em algum momento, um marco representativo na sua trajetória. Todos nós somos alfinetados por perfumes ou canções que marcam um momento "x" na vida e quando sentimos aquele cheiro ou ouvimos a canção, somos quase que remetidos instantaneamente ao "x" guardado na gaveta tempo passado.

Neste ímpeto de revisita, serão rememoriados 28 livros e 28 filmes que tiveram o seu momento de perfume e ficaram impregnados na memória do blogger aqui. Da moda mais clichê e blasé, serão revolvidos caracteres imaginísticos e sintáticos do metabolismo celular de 28 anos.

Não há um critério estabelecido, a não ser o da lembrança, assim, com já dito, não haverá ranqueamento de melhores, apenas a abordagem num clima nostálgico-crítico na busca de um tempo perdido, que bem guardado está no pensamento das coisas vividas.

Todos peças das coisas vividas e coisas pensadas no limite das coisas que são.

sábado, 8 de setembro de 2007

Nice Day For... There's Too Much Love

Retorno de Saturno. Fecha-se um ciclo, inicia-se outro. Saturno em trânsito ajusta-se à mesma posição do início. A noite assemelha-se com o céu que brilhou no tempo em que a possibilidade deixava de ser Marcelo e Marcelo passava a ser a possibilidade. O gerúndio da vida nascendo. Não mais uma discussão sobre a intervenção nos novos dias da Sra. Maria do Carmo e do Sr. Elson, da Carminha e do Dé: uma pessoa pequena de entrão na vida das vidas, num canto do mundo. A posição das estrelas mais ajustadas com a do primeiro engasgo, do primeiro choro e do primeiro desentendimento com o que era apresentado, em sentidos nada apurados, num absoluto desconhecido de som, imagem e cheiro. A reflexão da vida: nascia-se.

Neste sábado, observação do céu e pura medição, não como estudiosos o fariam ou o explicariam; mas num jeito de só observar a explosão nascente, a sensação descente de existência, estar de face com o momento de glória inicado há vinte e oito invernos, e com flores. Ver a desforra de alguns astros, a vésper vespertina e a desonra de outras, testemunhas da separação da alma matter, há quase mil e quinhentas semanas. Desfazia-se no plano físico a união perfeita dos nove meses que constitui-se em união de alma. Deixava-se a possibilidade somente à placenta. Era vida, então.

Fotograr a noite particular, ser câmera, ser pautas de caderno, ser memória embebida e tão suficiente para guardar o fluxo de imagens embaralhadas na retina, gravar o som... Só dizer. Mas, também, absorver o que só será uma noite pra muitos, uma outra de latrocínios, uma outra de suicídios, uma outra de teorizações ou outra mais amena de ventiladores de tetos, de espelhos, de beijos e de sacanagens. Uma de outras que virão a ser abençoadas neste ciclo que não cessa, uma outra vida mais realidade em tudo com todos. Uma noite nova para todos, novos símbolos, serão os mesmos de um passado não visto, mas sentido.

A contabilidade em vinte e oito; respirar, envolver, carinhar na matemática de um número perfeito, igual à soma de seus divisores próprios. 1 + 2 + 4 + 7 + 14 = 28. Dividir-se e recalcular-se na ordem dos números naturais de constituição, que são:

Ouvir Cemetery Gates, chorar e agradecer.

Pés All Star, caminhar e sorrir.

Jeans, estimular os músculos das pernas.

Ver Jules et Jim, apertar coração, rir.

Abraçar mãe, lembrar pai, receber amigo.

Beijar menina e devolver beijo e provocação.

Beber, Ser, Acalmar.

April Fools, Pale September, Frosti...

Livros em dúzia separados

Outros em centenas lidos.

Desenhos e fotografias do que se é.

28 voltas.

28 sensações.

28 revoluções.

Todos minutos contados sempre, vai lá...

Herói, filho, esperança e saudade.
A revisita começa e parece não ter momento definido para terminar.

O dia é de sol e a noite será como tem que ser. Como nosso pensamento teimar, talvez, mas como tem que ser.

Feliz pela nova revolução, pelo ciclo, pela renovação, por tudo. Pelos que agradecem, pelos que suplicam seu sorriso, pelos que te abraçam sem pedir abraço. Pelo telefone trim-trim, pela batedeira vrum-vrum, pelas panelas tam-tam, pelo relógio tic, pelo tempo tac, por você smack, por mim crack, por tudinho; e há um sensaboria nisto que não é conhecido mas é tão perfeitinho. O ciclo interminável, como a da crise de Saturno: tarefa solitária. Aos 7, primeira quadratura de Saturno natal com Saturno em trânsito; aos 14, primeira oposição de Saturno; aos 21, na segunda quadratura de Saturno; aos 28, o retorno.
O retorno das coisas, da vida em ponto culminante, para começar todas as outras coisas pensadas.
Nice day for a smile or nice day for a sulk... To Me.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Conservar

Querem a minha conserva. Minha conserva. Pra quê? Utilidades à parte, querem a minha conserva. Conservar o sorriso amarelo, a aparência, o jeito educado e a polidez. Conservar a distinção, a obrigação, a leviandade e retidão. Conservar o que for alcançável e possível, querem conservar. Querem, de algum modo, a conservação de um estado de coisas do espírito, do sexo, de mim. Querem conservar a aceitação aos conservadores, à afetação aos meus parecidos. Querem, mas por que querem a aparência bem conservada, fina. Conservar a conversa, o verso, a teimosia, o repente, a poesia, o estrado trincado, o dente trincado, o espelho trincado, o corpo trincado. Querem conservar a trinca desespero, dinheiro e amor. Conservam longe tudo que sonham, tudo que querem conservados bem distantes fora de alcance. Querem conservar o que não se pode conservar, querem conservar as nossas almas perecíveis guardadas ao gelo, como os sentimentos. Querem conservar a idade e a juventude e a beleza, querem conservar o infinitivo impessoal, mas assim as coisas estão tão pessoais que já não dá mais, tudo é só querer e conservar, que exterminam o que conservarem, o que conservarmos... O mundo pessoalizou e não vão fazer nada pra mudar, não vão fazer nada para conservar o mundo do jeito que conservamos.

Radio plays

The radio in the dining room was playing a mixture of many stations: a war voice crossed with the gabble of an advertiser, and underneath there was the sleazy music of a sweet band. 9h27 pm, just a sleazy music...

domingo, 2 de setembro de 2007

Cores


Setembro começou ontem - mês que mais gosto desde criança. Claro, fazer aniversário neste mês colaborou para isso, mas não só. Na 2ª série, a professora distribuiu uma folha mimeografada, com desenho de flores, que simbolizavam a chegada da primavera. Coloríamos as flores e reforçávamos os seus contornos originais de azul-céu-carbono com cores que não combinavam com cores de flores: verde com folhas azuis; eu era um destes meninos rebelados com as cores, com as cores de verdade do mundo de verdade da professora. Já via, desde então, sem nenhuma consciência disso, que os sulfites "alcoolizados" pelo mimeógrafo eram um meio de transgredir e de dissipar um pouco dessa energia de invenção que nos faz tão distintos. Inventa-se e vive-se um pouco mais.

Isso era importante pra mim, de algum modo, mas, muito compreensível, a professora não entendeu um menino de 8 anos subverter o referencial do mundo exterior para dar vida, em uma folha de sulfite, à criação do imaginário de um mundo que pudesse ter flores verdes e folhas azuis.

(Hoje, adulto, vejo que tragédias absurdas são possíveis e já fazem parte de nossa preparação diária enfrentá-las. Dissentimentos menores tornando-se razões suficientes para uma catarse para destruir as relações - e não pode-se alterar nada nem mesmo cores).

O cotidiano caos das metrópoles deve e precisa ser aceito com a normalidade inquestionável, de que todo o universo que a compõe que é explicável nas razões do mundo moderno, das ambições contemporâneas (e desde sempre) por tempo e por dinheiro. "Tudo por uma boa causa". A nossa auto-destruição deve ser suportada juntamente com as topadas nas calçadas das avenidas ,mas todas devem ser esquecidas com indiferença destra e instantânea.

E é tão difícil conceber adultos e crianças querendo fugir à regra para tornarem-se, ao menos por momentos muito restritos, alheios à inormalidade dessas coisas, quando tentam colorir os seus mundos com outras cores, com outros substratos que possam lhe conferir muito mais sentido de vida do que têm sido o mundo pintado fora das folhas de sulfites.

É por isso que eu gosto de setembro - há a lembrança de criança de que eu posso mudar tudo colorindo as flores do jeito que não devem ser coloridas, para colorir-se a idéia coletiva das flores e de toda idéia de beleza que elas carregam.

As cerejeiras deixam a minha calçada rosa.