terça-feira, 29 de maio de 2007

Credo Positivista

Às vezes, parece que o mundo é regido do subsolo com um mal-humor ardente, decidido, perverso na sua condição estúpida ao mesmo tempo que angaria uma imagem santa.
Destila-se amargura e ódio, com uma simplicidade que só reparando, o escárnio escroto e mal conduzido, mas decidido.
No subsolo ainda preferem a zombaria, a insustentabilidade de todos os setores da vida, fazem preces constantes ao tédio, corrompem-se; tratam tal assunto como se isto fosse a glória - lamentável condição essa de ser humano.
Eu prefiro a andar sobre este chão que ainda que me limite de algum modo; Que dá-me sustentabilidade, ainda que só aparente.
O que os do subsolo não prezam, não creem, não almejam, não planejam, não citam, sequer duvidam, ostento como bandeira, com um certo desejo de vingançazinha. Tudo que não lhe és bom a mim me parece fabuloso. Não sou nenhum pouco cruel, sou apenas este, como todos dono também de uma equilibrada hipocrisia, mas nada que afete o meu amor pelos meus amigos e determine um desrespeito e desintegre a minha luta por um mundo melhor... Sou este, dono desta existência (clara) que desfigura os utopistas.
Sou mesmo este que ainda crê no colhimento de flores, projeto de crença nas banalidades como obras magníficas que a vida proporciona contemplar e fabricar felicidade. Sou um botequeiro, mas desprezo a cerveja pelo café, sou um jardineiro que larga a terra para manejar e regar as flores, um tecelão alienado de seu brim.
Confusões nunca me apeteceram, não à toa, prefiro considerar que bons amigos são melhores que muitos amigos, a boa casa é melhor que a grande casa... No meu mínimo considero ainda que posso ser melhor e afastar as idéias indistintas de indiferença, por alguns ou por todos, mas que não caiamos na panfletagem sobre a salvação do mundo.
Creio na verdade como instrumento salvador, talvez seja eu sonhador deveras, mas, nunca considerei-me estúpido, então, acho que vou por um bom caminho, ainda que não seja o mais exato. A essência dessas coisas, banalidades de nosso cotidiano, está na crença, crer em algo, alguma coisa, seja um deus, em nossa existência, em nossas idéias e convicções, a crença é a engrenagem que possibilita o mecanismo das mais simples às mais desafiantes perspectivas resultarem em espanto, alegria e amor.
Piano, cabaret - estou diluindo em um prazer diluído em solidão - petrificando um desejo - desafiando um coração.
Apenas abençoe-me; benção para crer e que quero, para ser e que vejo, para entender e que desejo.

Juventude Sônica

às vezes, os ruídos de microfonia são bons, as acústicas trepidantes das caixas que vibram no tempo que parece o começo do fim de todas as coisas, o fim do som. o som do fim.

os convencionais xingarão e ignonarão, não hesitarão em quebrar o espelhado do laser que transforma tudo isso em som ou na possibilidade dele.


somos todos provincianos, puritanos, convencionais. perdidos nas baladas entre paredes mal concebidas para a destruição da sonoridade que camufla talvez um riso, talvez um choro ou nada - dentro de nossas próprias convenções.


há alguma possibilidade de acreditar no que não é regra, no que não rege sinfonias, no que não está certo e que, ainda assim, é suave, é bom. esta é a lei dos desregrados, mas felizes.


the diamond sea preenche até o que não existe.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Eu o tenho sob minha pele...


Um caso estranho, essa voz que parte minhas percepções de tempo... E como sou tão feliz de qualquer jeito quando ouço sua voz; nunca imaginei que me tornaria assim, seu refém. Ainda bem que é assim, num período de pouco sentimento, ser sentimentalóide só em poder ouvir este poder que reverbera com força; isso, já, de certa forma, é um meio de distinção de todo o resto.

Sou tão grato por ouvi-lo, por senti-lo como cócegas sinuosas que percorrem todo o meu canal auditivo e vão até lá no lugarzinho de não-sei-onde do cérebro metamorfosear-se em alegria e numa explosão de outras coisas que vertem em hormônios embaixadores da sensibilidade e da felicidade impelidas, e percorridas por todos os rastros do corpo, por onde houver nervo, pele, gosto e alma...

Ah, como é bom. É tudo o que mais queria ser: estar à toa a ouvir tua voz à toa...

Belos olhos azuis, estás indelével sob minha pele.

Renego em lutar sob todas as forças que és agora quem me impele no rascunho deste texto. Estar contigo neste inverno, nesta noite de segunda, nesta noite de Beirute, Constantinopla e de todos os Impérios derrocados e poderosos que sabem do poder, do mundo a seus pés, de tudo, sobre tudo, sobre todos... Estás riscado na linha do tempo de forma a não ter mais carinho e adoração, és o próprio carinho aos privilegiados que tens a vibração deste estrondo ululando dentro do corpo, benção à alma que o habita...

Belo, sois tão maldito. Mas o perdoarei sempre enquanto fores assim: tua voz o manto de vida que faz minhas noites tímidas mais delirantes e cínicas.