segunda-feira, 12 de julho de 2010

A vitória

A Espanha fez um bom mundial e merecidamente levou a Copa. Simples. Não é a máquina de futebol que todos agora dizem que é. Como é a campeã, virou moda dizer que a Espanha é a máxima expressão do futebol. Menos.

A "Fúria" é a melhor seleção de futebol dos últimos três anos, e isso é incontestável. Jogou menos do que podia na Copa, mas o suficiente para conquistá-la. É um selecionado competitivo, ofensivo, de bom toque de bola. E só. Os ibéricos não reinventaram o futebol, mas espelharam-se no que de melhor já foi produzido nele: a Hungria, de 1954; o Brasil, de 1970; a Holanda, de 1974... Mas ainda está bem longe destes esquadrões.

O bom de a Espanha ter vencido é que retoma-se com a sua vitória algo que ficou exemplarmente nítido principalmente a partir de 1954, com a Hungria do inominável Puskás. O futebol ofensivo e bonito pode ser vitorioso, ainda que a Hungria não tenha vencido aquela Copa. Pela tristeza do Brasil e pela alegria do futebol, o Brasil não venceu. Ainda bem.

Mediocridades a parte, a Espanha teve o equilíbrio necessário para tornar-se a legítima campeã, pelo fair play, pelo futebol. Quem gosta de futebol, já se cansou do jogo "de contra-ataque", dos volantes brucutus, das estratégias monocórdicas de se chegar ao gol: em vez de jogar no erro do adversário, desenhar os caminhos do acerto.

A vitória ou a derrota são os resultados do esporte. Ainda que se jogue lindamente e limpamente, a vitória poderá não vir. Vencer é ótimo, mas a proposta de como buscar os louros vale até mais do que a própria vitória. E as propostas corajosas ficam para a eternidade. A seleção de 82 ainda é mais lembrada que a de 94, ainda que a segunda seja a campeã; a maratonista Gabriela Andersen-Scheiss é mais lembrada que a vencedora, Joan Benoit, da maratona das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984.

Corajosos, vitoriosos ou não, serão sempre dignos de mérito.


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Mesmo sem nunca ter vencido uma Copa, as intenções dele o tornaram um dos maiores: Ferénc Puskás.