terça-feira, 6 de abril de 2010

Songs for Lulu

Rufus Wainwright (fonte: site oficial)

Rufus Wainwright, além de grande cantor, é compositor sensível, sem pieguices ou melações que são encontradas por aí como as que vemos sendo vendidas em hortifrutigranjeiros ou em grandes supermercados, na gôndola que deveria ser a de mel e açucarados em geral. Talvez, por isso, Rufus seja um dos artistas mais procurados para elencar trilhas sonoras de filmes e seriados, pelos estadunidenses e pelos europeus, mesmo sem que o cantor faça parte do grande stablishment da música, ou seja, do mercado e da feira das vaidades que norteiam este meio e tantos outros de nossa vida "contemporaneazinha".

Se atento, pode-se encontrar referências diversas nas letras de Rufus, especialmente de literatura e de cinema. Tais referências, nunca são gratuitas ou sem algum significado e, muitas vezes, servem para explicar um episódio de sua vida, em outras servem para filtrar a sua dor ou dividir a sua alegria, enfim, trabalhar a dualidade de ser artista e de ser um indivíduo que diariamente tenta aprender a lidar com as suas questões essenciais, a eterna conjunção entre dor e arte: a segunda tentando explicar a primeira ou a primeira tentando justificar a segunda. Não que para se fazer arte necessariamente é preciso que haja dor, mas a associação destas, até nos temas alegres e pastoris, em muitos casos, é irrefutável.

Bem, tudo isso só pra dizer que o cantor acaba de lançar um novo álbum: All Days Are Nights: Songs for Lulu. Um álbum mais intimista que os demais, composto de uma beleza um pouco triste, mas não ruim, porque, ainda que a felicidade seja preconizada por nós, indivíduos "modernos", em algum momento de nossa formação a tristeza nos faz bem. O que não é bom é quando este sentimento tende a perdurar mais que uma estação e então abre um vazio que "cutuca" as questões existenciais que abrem espaço para outras questões, as do valor de "se viver", de "viver-se". O álbum de Rufus é bonito, não é triste, pra ficar no "mais do mesmo".

A leveza dos álbuns anteriores aqui dá lugar a uma seriedade e introspecção não vista no trabalho de Rufus Wainwright até então. O cantor perdeu a sua mãe em janeiro, a cantora Kate McGarrigle. E essa perda implica renovação ou estabelecimento de conceitos antigos deixados de lado por desconhecidas e inúmeras razões, mas Rufus estabelece um marco na sua carreira e na sua vida, porque as coisas seguem, apesar das tristezas e dores fazer-nos entender que seria preciso parar o mundo por alguns instantes. Pelo menos o tempo necessário para que as nossas ideias entrem outra vez nos eixos.

Conhecendo a discografia de Rufus Wainwright, talvez nenhum disco de sua coerente carreira tem uma "aura" tão autoral como o que é lançado agora. Rufus parece abrir-se para dilacerar assuntos que de tão pessoais, parece um trabalho de assentar os conflitos internos, tal qual um bardo o faz quando senta pra rasgar no papel sua poesia, ou pra ratificar a falta ou excesso de esperança no mundo que Deus lhe confiou; e o bardo não entende tamanha a confiança de Deus em sua possibilidade de velar um mundo com as palavras que maquinalmente são trabalhadas por ele, são desintegradas, transformadas, lapidadas e aparecem vez e vez, repetidas, encardidas, cansadas, renovadas para compor o repertório do poeta, que Deus nomeou como embaixador. E Rufus não é embaixador de coisa alguma, ou porta-voz de ninguém, a não ser de si mesmo, pelo menos é o que fica evidente ao ouvir qualquer uma das faixas de seu novo disco.

Este novo trabalho é não só uma terapia para o cantor, mas também parece estabelecer o fechamento de um ciclo ou de ciclos de sua via pessoal que reverberam no seu trabalho e na caracterização dele, indivíduo Rufus Wainwright.

Rufus voltou a morar em Montreal, no Canadá, depois de um tempo morando em Nova Iorque. Este período, além de ter lhe trazido amadurecimento artístico, deixou marcas profundas, de tamanha força que o fizeram voltar a pacata, se comparada a megalópole estadunidense, Montreal, cidade onde passou toda a infância, embora seja nova-iorquino de nascimento.

A faixa que abre o CD é "Who are you New York?", levantando indagações deste período na cidade que já não reconhece; a terceira faixa, "Martha", é uma homenagem a sua irmã Martha Wainwright, que acabou de ter um bebê; homenagem como seu pai, o cantor folk estadunidense Loudon Wainwright III, já fizera certa vez, ao compor a canção "Pretty Little Martha".

É o CD em que Rufus mais trabalha o piano. Não há outro instrumento a não ser o piano e a voz do cantor, nas 12 faixas do disco recentemente lançado no Canadá, no dia 25 de março; na Europa no dia 5 de abril - ainda tem pouco (ou quase nenhum) material de divulgação. Esse disco não combina com clipe, mesmo. Os estadunidenses o terão nas prateleiras de suas Mega e Mini Stores apenas no dia 20 de abril, logo depois do dia do Índio, aqui no Brasil. Ainda não há previsão do lançamento do álbum de Rufus pelas terras dos Índios do Brasil.

Pela coesão e coerência de seu trabalho, um disco de Rufus Wainwright é sempre bom de ser ouvido, independentemente do estado de espírito do cantor, porque arcadista, parnasiano, moderno ou romântico, Rufus e a música constituem um signo e junção cada vez mais raro nas artes.

Na falta de clipe do novo CD, segue uma canção do disco anterior, Release the Stars, onde ele já aponta insatisfação com a "América":


domingo, 4 de abril de 2010

St. Vincent

A estranheza passa. A minha na segunda audição. Sons etéreos, confusos que no embaralhamento das notas, dos instrumentos ficam bonitos. Minha definição para a música de St. Vincent, "projeto" da cantora estadunidense Annie Clark.

St. Vincent - Marrow




St. Vincent - Actor Out of Work





St. Vincent - Laughing With a Mouth of Blood