sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os começos são muitos

Os começos são muitos. Necessários. Sem eles não há um fim. Um viés, uma razão. Nossos começos existiram para que pudéssemos então existir. Somos livres, partindo-se do princípio, do arbítrio que nos foi dado, como as teses são mesmo de liberdade. Para as razões há um porquê de começar para ser, razoar e perecer. E se ainda não começamos?
Convencemo-nos diariamente de que somos de uma matéria impetrável e indestutível de rudezas. Mas, na lucidez, sabemos e não ignoramos o quão parcos somos, e dessa rudeza não nos damos conta na maioria do tempo, pois a vida é algo como não ter lucidez. Aparte disso, há de começar a viver. 'Hei de viver.' 'Hei de ser reavivado nas memórias de quem conheci.' E se não temos esperança?
Soletramos discórdia, sim. Manejamos armas, sim. Soerguemos lamúrias, sim. Mas o etéreo está na imaginação do que é 'simples', do que é 'comum', o que não somos, quase sempre. Ser 'um' das desadivinhações. E ocupar-se em atentar ao cheiro do bosque de bétulas e das sâmaras espargidas pelo chão, ainda que o nosso bairro não tenha bétulas, num clima abafado em que aguardamos o gosto da chuva, e também o cheiro dela, da água que cai misericordiamente. É o queixume da chuva que bate no telhado e ecoa em alguma poça do quintal, dos quintais. E se não temos quintal?
Um texto de começo, outro de pensamento, outro de fim. Para razoar, outra vez, as nossas conjurações horárias, diárias. E se não há tempo?
Tudo começou e outra vez terminou. Estamos num átimo entre o precipício do princípio e da afinidade com os fins. Estamos juntos no mesmo mundo, na mesma entoada. E queremos saber como estamos, quem abençoamos e como vivemos. Num novo começo para principiar o fim. Os começos necessários são muitos. Sem um fim não há 'eles'. Livres somos partindo-se do arbítrio do princípio. Para uma razão há várias razões e sem elas não éramos? Não existiríamos.

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