terça-feira, 29 de setembro de 2009

Crer no incrível

Estou cercado por lepitópis. Vejo um pequeno, branco, logo a minha frente; um logo a leste; dois a oeste; um a sudoeste; e outro a noroeste. Agora percebo outro mais adiante e outro a duas filas a oeste. E agora, que viro a cabeça para trás, vejo um outro lá mais ao fundo. Uns chegando, outros indo. Ações num gerúndio profuso. Na falta de um béquispeice, utilizo a minha borracha ponteira para apagar uma letra, uma palavra que não coube, por questões mais semânticas que sintáticas. Subesisto no mundo da digitalidade contínua. Não há teclas de espaço no meu espaço. Há um espaço metalúrgico, um madeireiro e um seringueiro. Apontador, lápis e borracha. Um papel. E o papel, sim, a tábua, a minha tela. O progresso tão perto, tão longe. Tão fácil, tão difícil. A insubstituível caligrafia grunhe ao qwertyuiop. A borracha borra o grafite no que não deveria ter sido escrito. O borro como uma cicatriz, um acidente no texto. Um borrão alegre como lembrança de uma inadequação. O meu polegar e o meu indicador fazendo as vezes do Ctrl e do Alt ao virar das páginas. Há pautas.

Estou numa biblioteca, a qual alguns já denominaram universo. Aqui, em latitudes diferentes, pontos luminosos de cristal líquido e livros se alternam. Não vejo nada aqui que se assemelhe ao que chamam de cosmo, a não ser um barulho disfarçado de silêncio. Não é ficção, nem metáfora ou memória. É só o insustentável modo de tentar compreender o que não se é. E quantos lepitópis por aí... Meu lápis, meu caderno e minha borracha são um trio bom, ainda que ideia nenhuma rascunhada no papel acenda uma lâmpada ou me transforme num cidadão do mundo. Mas dá-me liberdade.

Aqui sou apenas o usuário da biblioteca que investiga o seu redor, o que não faz de mim melhor. Por que não? Estou escrevendo e sentindo em alguns momentos que não deveria ter entrado na biblioteca. Mas entrei. Acreditei nos universos, nos lápis e nem tanto nos lepitópis. Me fiz crer no incrível - nestas três simulações da vida.

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