quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

La Jetée (1961)

Cartaz original de La Jetée

O cinema é movimento? 'Sim' - você naturalmente responderá. Eu, simples apreciador da arte da imagem, da palavra, da conjugação das duas - vivas - direi: 'é, mas nem sempre.' Algumas fotografias exemplificam isso ou, melhor, alguns fotógrafos, como Steve McCurry, Jean Baptiste-Mondino, Bill Brand, Cartier-Bresson, entre outros mestres da imagem, que nos mostram que a imagem capturada pode ser muito mais avassaladora do que as imagens contínuas - iniciadas com o cinematógrafo, em 13.2.1895, pelos irmãos Lumiére - e popularizadas pelos longas-metragens de Hollywood titanicamente espalhados e propagandeados pelo mundo. Está certo, aqui citei gênios da fotografia, e não do cinema, e o que estes têm a ver com a pergunta que inicia o post?, e, eu, novamente, direi: 'tudo!'

O movimento é cinema, e o cinema não é só movimento, mas, sim, essencialmente, imagem, não, necessariamente, palavra, haja visto que o cinema, nos seus primórdios, era silencioso, e não menos majestoso e fantástico. Mas, nesta arte, que denominam como a sétima, o fantástico é quase, equanimamente, experimental. Você deve imaginar que quem escreve este post é um tremendo de um enrolão, esbanjando no uso das vírgulas, das pausas, não permitindo a fruidez do texto, não permitindo que se responda a questão inicial, sobre o movimento no cinema e na palavra, da intrínseca relação entre os dois.


Houve um cineasta francês que acreditou que o cinema era imagem, muitas, juntas, inteiras, mas paradas, e acreditou tanto nisso. As pausas, as quebras de sequências (ou falta delas), no texto, servem de apresentação ou de demonstração, via verbo, para os fantásticos 27 minutos de
obra do cineasta Chris Marker, de 1961, a experimental La Jetée.

Filme de narração objetiva, econômica, e feito essencialmente de fotografias P&B. Fotografias. Onde há uma única cena de movimento em todo o filme - e talvez o seu ápice - a cena do despertar do sono, da respiração e dos olhos entreabrindo-se, de uma bela e misteriosa mulher (Hélène Chatelain). O protagonista, através de uma viagem ao passado, tenta entender o seu elo com aquela mulher, e vai em busca da compreensão e dos motivos que provocaram a guerra nuclear que culminou no fim de quase toda a humanidade. Voltar ao passado e descobrir o início e o fim de tudo, este é o leitmotiv do filme de Chris Marker. La Jetée serviu de inspiração para Terry Gilliam (Monty Python; Brazil, O filme) produzir o Os doze macacos (1995).

Este photo-roman serve para nos mostrar que belas imagens e belos textos não precisam ser extensos, carregados, muitas vezes, de melodramaticidade vulgar, para fazer com que se alcance e provoque sensações no espectador. Sem cores e sem movimento, e com ruídos estranhos que dão ao filme a aura fria e distante dos filmes de ficção-científica, o filme de Chris Marker, é um bom entrosamento de texto, da narração distante e um tanto perto, com bonitos recortes fotográficos, do primeiro plano ao último.

Em
La Jetée a comoção não atrela-se ao movimento, à animação - estes, no filme, legados somente às essências da vida: o respirar, o abrir dos olhos para um outro dia, que poderá ser apenas um outro, dentre muitos dias, mas, talvez o primeiro, talvez o único. Ou imaginação, mesmo uma lembrança ou apenas um sonho.

É sempre precioso assistir obras como La Jetée, que ensinam, que inventam, que validam a emoção não em sua gratuidade, mas no que ela mesmo nos serve que é apreender experiência das boas e más incursões na vida, do nascimento à morte, como dito anteriormente - do primeiro ao último plano; da primeira à última fotografia; do despertar ao próximo sono; da roda-viva-gigante que é tudo, essencialmente tudo. Tudo, em La Jetée, é um despertar contínuo - do não-movimento - que nos intera das outras cores, já que não existem (aquelas) cores. Reavivar o instante parado no tempo para um novo movimento das coisas que não se movem.


La Jetée - 1961


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