domingo, 27 de julho de 2008

Tristessa


Tristessa não é a junkie corrompida, puta de Kerouac. Tristessa é quem dormiu comigo esta noite, dividiu o travesseiro e a confusão que enchia a cabeça. Tristessa é forte, com as ancas certas, tudo no lugar. Tristessa, como a outra, tinha a carne dourada, as coxas voluptuosas; com um qualquer gesto fatal, na sedução da psiqué hipnotiza-me em sua tenra carne. Tristessa nem sabe o meu nome, Tristessa nada a mim confessa, mas me quer. Não dá satisfação, mas cede destempero. Commençons, si vous le voulez bien, par un rapide historique de la situation. Tristessa parece apaixonada, esvoaça-se para mim, por mim, ainda que não dê ao menos um bom-dia, que tanto espero ouvir, de uma companheira, de um amor. Após muito pensar, não peço a Tristessa amor; descobri que nada pode me dar, e que tem um poder de subtração que não cabe em minha explicação. Não argumenta-se.
Tristessa me acompanhou até a esquina, precisava comprar alguma coisa para o café: não tinha pão e o leite que tinha era só em pó; mas Tristessa não me falou sobre o café, queria mesmo só a mim. Parece que, a descrição que se substancia será impregnada de negativas e nãos infinitos, só porque o esperado, e a boa esperança sobre Tristessa, jamais, em vida, se concretizarão. Se estou conformado? Tristessa não me conforma, outra vez, jamais, mas tem um poder consolador que desintegra um pensamento mais racional sobre esta situação. Tento uma abstração de todo esse momento, quando percebo Tristessa apoiar-se sobre o meus ombros e começar a ditar minha escrita...
O dia de Tristessa e o meu apenas começou, e algo, subjacente desta paráfrase, quer nos unir. Me afasto do pensamento, atenho-me a uma esperança doce que me apartará dos braços quentes de Tristessa...

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