quarta-feira, 28 de maio de 2008

Atmosphere


Posterguei por (ou postergaram por mim) 7 meses, mas vi, finalmente, Control, a cinebiografia de Ian Curtis, vocalista do Joy Division.
Ian foi o meandro de uma turbulência, de um escape de um momento acre, doce, bonito e doloroso: minha adolescência. Já na minha adolescência, quando procurava amparatos ou figuras onde pudesse repousar as minhas perspectivas, como muitos, ainda tinha rockstars como uma das sínteses das deflagrações e representações das minhas angústias de então. A minha fase, quase PERMANENTE, alienava-se das celebrações ou das aglomerações, de lugares de muita gente, preferia ficar em casa, especificamente no quadrado do meu quarto, lendo, apreciando as minhas novas aquisições, dentre elas As Iluminuras ou Uma Temporada no Inferno, de Arthur Rimbaud. Isso aos 17. Arcabouço literário construído pela necessidade de me fundir a um ente como o meu, um espectro bajulando alimento e de algo para partilhar carência, dividir afeto, conseguir entender de uma forma mais ampla as divindades que contornavam a aura dos anjos rebeldes. As vozes de Jimbo (Jim Morrisson) e Ian ressoavam neste espaço como teares das idéias perdidas, encontradas em versos, música, gritos, auto-absolvições...
Essas vozes graves riscaram os momentos pré-felicidade dos 18, pós-perda do pai. Apesar de momentos novos na vida, tudo parecida já ter sido vivido, rememoriavam de uma vida de que eu não me lembrava, mas nada era tão novo quanto deveria parecer ser. Talvez efeito de uma mente lapidada também pelas páginas de outro Arthur, o Conan Doyle, o embate das idéias de ambos estava deflagrado em minha cabeça.
Sintonizava-me em Transmission, do Joy, compunha-me em Yes, The River Knows, dos Doors.
Essa era a SUBSTÂNCIA. A clemência, o fomento de outros embates... Conhecendo as estações do ano, vivificando-as nos trópicos onde não há estações, onde as praias são sublimes, mas não para quem vive num quarto de uma cidade de todas as luzes de prata para amperar os sentidos, medir a situação, perceber a morte da forma mais vívida, conhecer-se adulto. Isolation fazia muito sentido.
Ian Curtis foi importante, é importante, ainda ouço as suas músicas com fulgor, mas tudo é mais calculado hoje, menos idealizado, e ainda mais sincopado com as linhas do baixo elétrico do Joy, e, assim, parece que a razão de suas canções hoje é maior do que na ocasião em que foram concebidas, há quase 30 anos, ou quando as concebi, há mais de 10 anos. - Joy Division ainda é uma suma de uma parte de minha vida, mais ainda do que quando vestia a camiseta estampada com a capa de Closer no peito...

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