As pessoas são muito sérias. São sérias. As situações mais bobas encaradas com uma retidão necessária. Pessoas pensam na seriedade como o caminho mais fácil para a felicidade. A felicidade deve ser assim - cultivada com um mau-humor, cara de vômito, já que quem se preza em nossa realidade não ri à toa. Ria no banheiro. Faz-se mais dinheiro com a cara fechada, cuspindo as palavras que podiam ser pronunciadas com entendimento. Lógico, os miocárdios ficam mais afetados, os espelhos trincados, mas danem-se os miocárdios, pois, os sérios não carecem de coração, carecem da plena seriedade, retidão, quitação de imposto, conserto do pneu, da porta do guarda-comida, dos faróis de milha do popular do ano.
Neste ano não houve um ímpeto de ao menos um riso de soslaio, de despretensão. Para quê? Por quê? Há que se cuidar do jardim, e flores não sorriem; guarda-se as mágoas sob o véu deste pecado do riso impróprio. Explodam-se os espelhos, nos debruçaremos ante às poças d’água para o acerto da gravata e da cara séria. O retoque no bigode e nos dentes postiços que exageram em seriedade, mas, no fim, seriedade em nenhum momento é exagero. Copula-se, especula-se, à revelia, sem prazer, pois, prazer também pode não ser sério, copula-se, fode-se pelo dever, com a seriedade do pinto riste a adentrar pela primeira racha que lhe acolher famintamente úmida pela sina da biologia feminina. Cuspa-se lá, o pinto com as gotas do prazer sob a seriedade mais bela já vivida e lubrificada ante o jogo pecaminoso do entretenimento.
Dizem que somos tudo que há de perfeito, à semelhança do Criador, não somos? Que sejamos sim, sérios, pois, o único meio de sermos perfeitos é sermos sérios. Ouvimos as músicas, já as decoramos em nossos corações, sejamos mais sérios, as anotemos em nossos cadernos, pois os felizes e sérios, anotam a verdade a sintonia, toda a melodia deveria ser anotada já que não é sério confiar na emoção e muito menos em nossa vã, frágil e terna memória. Esta sala é tão séria, esta escrita é tão séria, a nossa roupa é tão séria, achamos que achamos a felicidade. A seriedade é co-irmã deste bem que faz todos se sentirem bem. A nossa juventude deveria ser mais séria, aprenderia a como reter-se ante as desvirtues, teriam mais saúde.
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No parque há dezenas de crianças, muitas organizadas num grupo, e num destes, diferente dos demais, as crianças quase não falavam entre si, pois, sentadas ao tapete verde do gramado bem aparado como se medido num sopro de anjo (com um olho fechado e outro no pasto pra ver cada mato de grama saliente para a devida poda), as crianças pareciam centradas num pensamento único, alinhado em cabecinhas diferentes; era então o momento do desato, da agonia do mundo sério. Rompeu-se o silêncio, quando a seriedade do mundo explodiu em coro e dividiu-se em vários pedacinhos, uma das crianças disse a outra ‘quer brincar?’, da outra nem uma palavrinha, só o balançar dos ombros com uma firmeza que nenhuma palavra verte a não ser quando acompanhada na explosão maior do sorriso. Sorriram. A verdade alinhada aos eixos testemunhou que na seriedade há fome e miséria, além da virtude e do riso infantil, a seriedade serena sempre foi caminho nobre da responsabilidade, mas nunca soube entender os desacordos. As crianças sorriram, vêem-se perninhas tinindo de medo e de vergonha, de gosto e de felicidade. Mais uma citação descabida, só com um desatino, pra tornar um mundo sério num mundo da criança desabitada que vê no refúgio da vida o sorrir como o melhor dos alimentos.