domingo, 6 de janeiro de 2008

Propósito de Juventude

Uma das finalidades da arte como um todo é a de resgatar a juventude que reside dentro dos seres insatisfeitos com as condições que o tempo propõe, quando não se é mais tão jovem assim. A arte deve servir como essa ponte que nos leva à dimensão desconhecida de tempo e que perpassa até mesmo por experiências não vividas, com o objetivo de destacar e colocar em nosso exterior a juventude contida, esquecida ou até mesmo só imaginada. Não diferente, a nova produção de Francis Ford Coppola reintera este propósito.

Coppola, depois de quase 10 anos apenas cuidando de sua vinícola, se propôs, agora como hobby, a fazer algo que faz e bem: cinema. Exibido na premiére do Festival Internacional de Cinema de Roma, o seu novo filme, Youth Without Youth, parece ser uma síntese desta eterna busca, da juventude alheia a juventude. O próprio título, numa tradução bem livre e literal, em português, seria Juventude Sem Juventude. Poeticamente, a tradução para o italiano poderia simbolizar coerentemente o significado do filme: Un'altra Giovinezza, que traduzido seria Uma Outra Juventude.

O diretor diz ter rejuvenescido com o filme, já que pode se dar ao luxo de fazer e produzir o que lhe convier, sem a preocupação do mercado cinematográfico. Talvez, Coppola esteja mais autoral do que nunca e, portanto, ainda mais jovem e maduro, paradoxalmente falando. Maturidade sempre foi o cerne da cinematografia de Coppola, mas, segundo o próprio diretor, esta maturidade parecia estar embasada numa superficialidade inerente à estrutura do cinema feito hoje, com a preocupação básica de se fazer películas para arrecadar dinheiro, pura e simplesmente, deixando em segundo plano a coerência artística em que o cinema, como outras artes, se propõe e se define.

Claro que Coppola, como poucos, soube muito bem lidar com esta questão e subverteu a linguagem do cinema norte-americano de meados dos anos 70 pra cá, aliando vigor, bilheteria e precisão no gosto de desfiar o pensamento contemporâneo na busca da liberdade, a sua serena odisséia com O Poderoso Chefão e a mordaz apresentação do Vietnã em Apocalypse Now. Com o novo filme, Coppola, pode não renegar ou desdizer o que já fora dito em outras épocas até os dias de hoje, sobre as amarras do viés artístico feitas pela indústria do cinema, impossibilitando vôos mais subversivos, portanto, proposto à moldagens mais previsíveis de se fazer cinema, mas, antes de tudo, Coppola tenta solidificar uma vanguarda já idealizada há muito pelos cineastas franceses dos anos 60, que ainda continua sendo o mito e objeto de veneração por aqueles que calculam o cinema sem maquiagem e com muito suor. O próprio tema de Youth Without Youth, estrelado por Alexandra Maria Lara e Tim Roth, que trata de um jovem atingido por um raio, na ocasião da 2ª Guerra, e então sofre uma espécie de metamorfose regressiva e rejuvenesce 30 anos. Além da juventude, passa a ter também poderes de consciência interdimensional sobre o hoje e o futuro.

Essa interdimensão buscada nas artes, aparece como a parábola do futuro, ou melhor, do presente, desinibido por Coppola. Diariamente procuramos nos definir no paralelo da dimensão restrita do ser humano, que delinea as esferas do tempo que passou, o tempo que é e o tempo que será. Coppola, muito consciente disso, utiliza de sua arte para imprimir ainda mais discussão, o travamento eterno de nos sentirmos interessantes e úteis - de alguma forma sermos jovens.

A representação disso pode vir pelas artes, como bem fez Francis Ford Coppola, através de seu último, mas sintetizada em toda a sua filmografia, mas todos nós podemos, de alguma forma, desde que haja a fé necessária deste resgate, e isto não esteja vinculado ao Cronos.

Youth Withou Youth soma-se à batalha incessante das artes pelo refugo juvenil, pelas arestas que definem a vida intrínseca à sua beleza viril, forte e equilibrada. Saudemos todos os propósitos, tal como o da circular discussão sobre a juventude, sobre às incansáveis e inesgotáveis fontes artísticas que nos alfinetam, nos acordam para uma outra percepção de nossas vidas comuns, desvinculando-nos, por um período, disso que chamamos de realidade, vida presente, para nos mostrar outras possibilidades, e não menos dignas de se encantar com os sismas da vida, ainda que estes sejam apenas impressões impregnadas em negativo ou num Super 8.

Um comentário:

Anônimo disse...

hum. estou cansada demais pra ler sobre um filme que não vi, mas a frase do livro dos conselhos sempre cai bem.

:)