sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Falling Star


Acabei de assistir Some Like It Hot (Quanto Mais Quente Melhor) e Don't Bother to Knock (Almas Desesperadas), ambos estrelados pela Marilyn (a Monroe). Estou extasiado! Sou franco - nunca a imagem desta loira platinada me pareceu arrasadora e arrebatadora como agora, pois, desde que me conheço ouço falar dela e, sinceramente, a achava um pouco blasé. Mas o mundo muda, não é? Não é à toa, as imagens que eu tinha dela eram a da loura (com u ou i, como preferir) fatal, mas ela a é, só que muito mais. As percepções acompanham as transformações de nossa vida, pois, após assistir todos os filmes dramaticamente relevantes de Norma Jeane (nome verdadeiro de Marilyn) - boa parte destes pela Fox - a minha percepção sobre a "ilegal blonde" parece mesmo ter se alterado.
Ela parece ter mesmo um "não sei quê" de que citei no primeiro post, para parafrasear Camões novamente. Esta jovem que morreu muito cedo (com 36 aninhos, em 1962) não parece ser própriamente uma atriz, sensação equivalente me ocorre quando vejo Audrey Hepburn, mas são duas personalidades distintas, e sobre a segunda falarei numa outra oportunidade. As cito pois creio que não seja a personalidade dramática destas que chamem a minha atenção, no caso especial da Marilyn, esta imagem ascende ao status de "mulher gostosa". Afinal, mulher gostosa se vê em qualquer lugar, não? Particularmente em Hollywood, nas décadas de 40 e 50, temos Kim Novak, Rita Hayworth, Lana Turner (outra loira) e outras, mas a Marilyn agora me parece um caso à parte. Além de assistir aos seus filmes me debrucei em sua biografia, escrita por uma psicanalista fã da loira (psicanalistas: personalidades corriqueiras na vida de Marilyn), assim, pude esmiuçar um pouco a vida da mulher que é mais conhecida pela cena do vestido subindo ao passar sobre uma galeria subterrânea do metrô em The Seven Year Itch (O Pecado Mora ao Lado), ou pelos quadros de Andy Warhol, muito mais por estes do que pelos seus filmes.
Como disse anteriormente, não é a performance dramática de Marilyn que "tilinta" aos meus olhos quando a vejo e, com isso, não quero desmerecê-la por suas representações na tela, aliás, sou partidário de que ela não foi devidamente valorizada pelos estúdios, o stablishment intelectual e executivo de Hollywood de então a via com olhos de desconfiança, ainda que lhe trouxesse rios de dinheiro com as bilheterias de seus filmes. Marilyn nunca foi rica, acredite. Na década de 50 ninguém, no show business americano, era capaz de causar estardalhaços ou furores como ela, talvez somente equiparada a Elvis Presley, mesmo assim lhe pagavam mal. Em seus primeiros filmes, quando já era o furacão loiro de que temos conhecimento, para se ter uma idéia, no primeiro filme em que ela é protagonista, o Don't Bother To Knock, nos créditos deste filme o seu nome aparece ao lado do de Richard Widmark, ou seja, os dois astros do filme, mas este também é estrelado pela moreníssima Anne Bancroft, e estima-se que Anne, que aparece de vez em quando no filme, tenha recebido a bagatela de 100.000 dólares pelo filme, enquanto Marilyn apenas 10.000.
Mas, a parte desses números, Marilyn transpira um misto de sensações, perpassando da menina ingênua à mulher diabo. Vendo os seus filmes eu posso perceber o quanto aquela mulher era tão bela quanto triste. Esta tristeza não era evidente, mas sabendo-se de sua trajetória, com alguma sensibilidade, poderíamos perceber que as suas habilidades de interpretação superavam de longe a sua angústia e a sua solidão do mundo real. Agora percebo (e sinto!) que ela muito facilmente deixava os marmanjões "alegres" e as mulheres com um tico de inveja, e quem não queria ser ou ter Marilyn? Mas aquela moça que apreciamos ver rodeada de diamantes, em The Men Prefer the Blondes (Os Homens Preferem as Loiras), tinha mesmo uma vida cheia de complicações atrás das câmeras.
Marilyn nasceu mesmo para fustigar, provocar os fracos e estes, com a sua fraqueza, tentaram se esquivar dela tentando destruí-la. Marilyn não era santa, graças a Deus, era uma mortal, mas que teima em não morrer, sabemos porquê e não sabemos explicar esse "não sei quê" que ela possuía, este misto do carnal com o sacro, do profano com o divino. A personalidade de Marilyn era frágil na medida que buscava ser bruta para suportar os solavancos que previa receber da vida, do meio social ao qual pertencia. Tudo isso faz com que reflitamos sobremaneira a respeito dos valores e anseios mais íntimos das pessoas, mesmo que as conheçamos bem.
O mundo não havia sido feito para Marilyn, nem ela para este mundo, por isso o deixou cedo, causando espanto nos seres que aqui vivem até hoje, fomentando dúvidas e fábulas a respeito da época em que poderíamos acreditar que via-se, de fato, entre as estrelas, uma estrela cadente.

Nenhum comentário: