domingo, 6 de fevereiro de 2011

Arestas

- O dia tá nebulento, não tá, meu filho?

- Não reparei.

- Pega o gibão pra sua mãe.

- Ahn?

- Ande, lesmo.

- Calma, mãe. A via é uma, não é duas.

- Seu pabola! Adiante minha vida, não desmantele minha calma!

- Ave...

- Por que tá bufando? A misericórdia de Deus me livre, mas essa agonia me cansa, e me enfastia me deixando fraca. Largue essa facécia, me dê a bolsa pra eu tomar o guarda-chuva.

- Fique distensa, mãe, acho que não vai chover...

- Se não vai? Olha o cheiro! Cheira a luz. Já escapole. É um desperdício esse seu pensamento.

- Mas que frivolice fora de hora, mãe. Já essas nuvens vão embora. Está vendo? O vento já vai arrebanhando elas.

- Tá duvidando do meu faro d'água, faceiro?

- Não mãe, não tô...

- Então, tome prumo e escute o que lhe digo. Passa o gibão.

- Arre.

- Desde menina respiro de longe a água. Falo sério, moleque. Não sou catirina.

- E essa caminhada ainda demora, mãe?

- Demora a suficiência necessária. A urgência de saber dessa dor que prensa os quarto.

- E o médico vai saber?

- Ah! Vai não, lesmo! Pare com parvoice. Ele é conhecedor. Leu pra isso. Pra entender a dor dos outro.

- Mãe, a dor não é entendimento de quem sente, e se remói?

- Filho, a dor é complicada, por milhor que seja o doutor. A dor é coisa íntima, e o seu valor e a sua força só atesta mesmo em quem dói.

- Sofre não, mãe. A gente já vai chegando... Você toma um remédio e fica boa.

- Mas a chuva já resolve um pouco. Este tipo de dor que faz o céu banhar toda a gente.

- É, mãe. O céu tá mesmo nebulento.

- Então deixa a chuva descer, sem guarda-chuva.

- Não quer mais o guarda-chuva?

- Deixa assim. Água na moleira pra aliviar a dor e os dias...

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