- O dia tá nebulento, não tá, meu filho?
- Não reparei.
- Pega o gibão pra sua mãe.
- Ahn?
- Ande, lesmo.
- Calma, mãe. A via é uma, não é duas.
- Seu pabola! Adiante minha vida, não desmantele minha calma!
- Ave...
- Por que tá bufando? A misericórdia de Deus me livre, mas essa agonia me cansa, e me enfastia me deixando fraca. Largue essa facécia, me dê a bolsa pra eu tomar o guarda-chuva.
- Fique distensa, mãe, acho que não vai chover...
- Se não vai? Olha o cheiro! Cheira a luz. Já escapole. É um desperdício esse seu pensamento.
- Mas que frivolice fora de hora, mãe. Já essas nuvens vão embora. Está vendo? O vento já vai arrebanhando elas.
- Tá duvidando do meu faro d'água, faceiro?
- Não mãe, não tô...
- Então, tome prumo e escute o que lhe digo. Passa o gibão.
- Arre.
- Desde menina respiro de longe a água. Falo sério, moleque. Não sou catirina.
- E essa caminhada ainda demora, mãe?
- Demora a suficiência necessária. A urgência de saber dessa dor que prensa os quarto.
- E o médico vai saber?
- Ah! Vai não, lesmo! Pare com parvoice. Ele é conhecedor. Leu pra isso. Pra entender a dor dos outro.
- Mãe, a dor não é entendimento de quem sente, e se remói?
- Filho, a dor é complicada, por milhor que seja o doutor. A dor é coisa íntima, e o seu valor e a sua força só atesta mesmo em quem dói.
- Sofre não, mãe. A gente já vai chegando... Você toma um remédio e fica boa.
- Mas a chuva já resolve um pouco. Este tipo de dor que faz o céu banhar toda a gente.
- É, mãe. O céu tá mesmo nebulento.
- Então deixa a chuva descer, sem guarda-chuva.
- Não quer mais o guarda-chuva?
- Deixa assim. Água na moleira pra aliviar a dor e os dias...
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