sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Três diamantes

Diamond Sea - Sonic Youth


Shine On You Crazy Diamond - Pink Floyd


Diamonds and Rust - Joan Baez

Inabalável são-paulinidade

Sucesso

O sr. K. viu passar uma atriz e disse: "Ela é bonita". Seu acompanhante disse: "Ela teve sucesso recentemente porque é bonita". O sr. K. se aborreceu e disse: "Ela é bonita porque teve sucesso".

(BRECHT, Bertolt. Histórias do sr. Keuner. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Editora 34, 2006. p. 38)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Achado

Gefunden

Ich ging im Walde
So für mich hin,
Und nichts zu suchen,
Das war mein Sinn.

Im Schatten sah ich
Ein Blümchen stehn,
Wie Sterne leuchtend,
Wie Äuglein schön.

Ich wollt es brechen,
Da sagt es fein:
Soll ich zum Welken
Gebrochen sein?

Ich grub's mit allen
Den Würzlein aus.
Zum Garten trug ich's
Am hübschen Haus.

Und pflanzt es wieder
Am stillen Ort;
Nun zweigt es immer
Und blüht so fort.

Johann Wolfgang von Goethe (1813)


Achado

Há pouco permiti-me
Fazer um passeio no bosque
E não procurar por nada,
Este era o meu desejo.

Mas, ali na sombra, vi
Uma flor plantada,
Cintilava como estrelas,
Como lindos olhos.

Desejei pegá-la,
Quando, gentilmente, ela dirigiu-se a mim:
Quer mesmo me pegar,
Só para me ver murchar?

Então levei-a a um jardim,
Com todas as suas raízes
Para contribuir com sua beleza
Em uma casa também tão bela.

Plantei-a novamente
Em lugar arejado;
Agora, seus ramos crescem
E florescem para mim, para sempre.

(Tradução de Marcelo Maia Torres)

sábado, 14 de agosto de 2010

"Tem que acreditar"

Há quase 10 dias, eu estava num ônibus quando o São Paulo Futebol Clube jogava a segunda partida pela semifinal da Copa Libertadores da América. São Paulo vs. Internacional. O São Paulo venceu o jogo, porém não se classificou à final. Pela regra da competição, o gol marcado fora de casa é o primeiro critério de desempate, quando a soma dos resultados dos jogos é de igualdade entre as equipes.

A perda da possibilidade de disputar mais um título da Libertadores é menor. Futebol, como outros meios, é entretenimento, pelo menos eu encaro assim. E a tristeza de um torcedor, muitas vezes, é compensada com gestos ou posturas emblemáticos de seu time do coração. O São Paulo este ano joga um futebol aquém das expectativas, mas, dentro de suas limitações, no jogo do dia 5 de agosto, demonstrou ao menos vontade de vencer. Isso somente não ganha jogo. Ainda que a equipe saia derrotada, o que não foi o caso, ou eliminada, há de fazer o seu torcedor se sentir consolado ao menos pelo espírito de luta.

Mas naquela noite há um fato maior que tudo isso que me fez reflexivo. No ônibus em que eu estava entrou um menino, de seus 10 ou 11 anos, vendendo balas, drops. O que é comum no Brasil, infelizmente. Depois de oferecer a bala para os passageiros que estavam sentados no ônibus, o menino parecia cansado, logo procurou o primeiro lugar ao seu alcance pra se sentar, que era ao meu lado. O menino, com a sua caixinha de drops no colo, se virou pra mim, cutucando o meu ombro, quando começou o nosso diálogo:

- Cê tá ouvindo o jogo do São Paulo?

- Sim.

Ele prosseguiu:

- Cê é são-paulino?

- Sim. E você?

- Eu sou também... Quanto tá o jogo?

- 2x1 para o São Paulo...

- Caramba, o São Paulo precisa fazer mais um, né?

- É... Mas tá dificil.

- Eu posso ouvir o jogo com você?

- Ah, pode... - e entreguei um dos fones de ouvido para ele poder acompanhar a partida.

Foram mais ou menos 20 minutos de jogo em que dividi o fone com o menino. Por um momento esqueci do jogo, e fiquei reparando nas expressões dele quando o São Paulo desperdiçava uma chance de gol ou quando era contra-atacado pelo Internacional... O menino parecia mesmo aflito.

O jogo ainda não havia terminado quando chegamos ao destino final do ônibus, quando o menino devolveu o fone, e me disse:

- Vamos acreditar, né? - e agradeceu por ter lhe emprestado o fone.

Eu só disse um tímido "de nada".

Quase onze da noite e uma criança vendendo balas no centro de São Paulo, de ônibus em ônibus. De algum modo fiquei fragilizado, mas o menino parecia não estar preocupado com coisa alguma.

Ali me parecia que desejava somente que o seu time vencesse, talvez para partilhar com alguém, consigo que ele era, em suma, um vencedor, porque o seu time havia vencido. Não sei das condições de vida do menino, nem de sua família, mas a minha ignorância e hipocrisia, fruto da desgraça cotidiana, foi estilhaçada naquele momento.

O menino embarcou em outro ônibus. Se não encontrou outro companheiro de viagem que divida o som do rádio, só deve ter sabido em casa ou no dia seguinte, na primeira banca de jornal, que o time dele não fez o placar que precisava.

Pensei no rosto do menino quando ele disse "tem que acreditar, né?"

Tive uma infância limitada, pobre, passei por apertos, mas nunca me faltou uma casa e eu não precisei vender balas nos ônibus. Espero, sinceramente, que este garoto continue acreditando, agora na força da vida, e que a realidade dele como homem seja bem diferente da que ele carrega enquanto menino.

Digo para mim: "tem que acreditar". Acreditar em algo bem maior que um jogo de futebol. Algo que me impele lembrar desse fato e que me faz esquecer tantos outros, que me empurra para algo bem maior, e que não posso esquecer.

sábado, 7 de agosto de 2010

Sia

Entre os meus mp3, reencontrei o de uma cantora australiana chamada Sia Furler, ou apenas Sia. Uma das canções que possuo tem também um clipe de uns 2 anos atrás, que é de um visual muito bonito.

Se podes ver, vê.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Argentinamento das coisas

Como parte do meu processo de argentinamento, assisti há algumas semanas o filme Rompecabezas (Quebra-cabeças). Uma belíssima surpresa. Ao mesmo tempo que é uma belíssima decepção. Decepção não pelo filme, mas por saber que filmes desse porte muitas vezes não entram, nem resvalam, nem tiram tinta da trave do circuito comercial. É mesmo uma pena. O filme tem recebido prêmios por aí afora. A direção é de Natalia Smirnoff.

Já no ano passado eu tinha lido a respeito desse filme, e assistido ao trailer. E a oportunidade de assisti-lo surgiu há algumas semanas no Festival de Cinema Latino-Americano. Bons filmes como esse, infelizmente, acabam restritos a "guetos", a um nicho.

Mas também, filme bom, que não seja de explosão, comédia, romance ou não seja de Hollywood, aqui é difícil vingar.

The Changeling

Um pouco de música na sexta de música.

O pequeno filme está legendado em espanhol.

Mudanças!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Será?

O fim de uma era de infâmia

por Luis Nassif

Diogo Mainardi está saindo do país. Na sua crônica, brinca com o medo de ser preso. É medo real. Condenado a três meses de prisão pelas calúnias contra Paulo Henrique Amorim, perdeu a condição de réu primário. Há uma lista de ações contra ele. As cíveis, a Abril paga - como parte do trato. As criminais são intransferíveis. E há muitas pelo caminho.

Há meses e meses meus advogados tentam citá-lo, em vão. Foge para todo lado. A intimação foi entregue na portaria do seu prédio, mas os advogados da Abril querem impugnar, alegando que não foi entregue em mãos. Tudo isso na era da Internet, quando todo mundo sabe que ele está sendo procurado para ser intimado.

A outra ação, contra Reinaldo Azevedo, esbarra em manobras protelatórias dos advogados da Abril. A ação prosperou porque colocada no Fórum da Freguesia do Ó - região da sede da Abril. Os advogados da Abril insistem em transferi-la para a Vara de Pinheiros.

Minha ação de Direito de Resposta contra a Veja vaga há quase dois anos, devido à ação da juíza de Pinheiros. Primeiro, considerou a inicial inepta. Atrasou por mais de ano a ação. Em Segunda Instância, por unanimidade o Tribunal considerou a ação válida e devolveu para a juíza julgar. Ela se recusou, alegando que a revogação da Lei de Imprensa a impedia - o direito de resposta está inscrito na Constituição Federal.

No caso da ação Mainardi-Paulo Henrique Amorim, ela absolveu Mainardi, alegando que as ofensas não passavam de mero estilo de linguagem que não deveriam ser levadas a sério. O disparate da sentença foi revelado pelo próprio TJ-SP ao considerar que o autor merecia uma condenação de três meses de prisão.

O problema não é Mainardi. É apenas uma figura menor que, em uma ação orquestrada, ganhou visibilidade nacional para poder efetuar os ataques encomendados por Roberto Civita e José Serra.

Quando passar o fragor da batalha, ainda será contado o que foram esses anos de infâmia no jornalismo brasileiro.

Fonte: blog do Luis Nassif. Postagem de 25/07/2010.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Não sou o que então eu era, mas ainda me é dado recordar

Até um tempo atrás, se algum cliente reportasse a mim dessa maneira:

- Por favor, você tem "O Aleph"?

Bom, eu, com um sorriso sorrateiro, ficaria feliz com a busca do cliente, afinal este era um daqueles que de vez em quando me deparava para partilhar algo interessante do mundo da literatura... Ah, eram outros tempos.

Hoje não sou mais vendedor de livros, mas sei que os vendedores de livros de hoje também sabem que se alguém pedir a eles "O Aleph" não será esse um predicado literário voltado àqueles que buscam boa leitura, pelo menos não somente. O Aleph, título do clássico livro de contos de Jorge Luis Borges, é o nome do novo livro de Paulo Coelho. Pois é.

Enquanto Borges foi gênio, de fato, Coelho se autointitula 'mago'. Pois é outra vez.

O livro de Borges é crucial para o que se denomina paixão pelo aprender, pelo saber, por ler, pela metafísica da vida. O título do livro de Coelho: eu não sei, soa uma ignomínia; não à Borges, mas à literatura como um todo.

O mago é 'imortal' 'e não sabe o que faz'. Ou sabe?

Diga-se, isso não é a primeira vez que Paulo Coelho infama Borges, ou sei lá coisa que o valha. Pois, em 2005, lançou o livro O Zahir, que, por coincidência ou não, é o nome de um dos contos do Aleph de Borges... e um dos melhores do livro.

Qual é a do mago eu não sei, mas costuma conseguir êxito no que intenta, talvez por isso seja mesmo um mago. A mesma academia que rejeitou Carlos Drummond de Andrade o acolheu de braços abertos, para o aconchego da câmara do chá das cinco... Politicagens: Getúlio Vargas também foi aceito pela academia. Me diga o livro de Getúlio ou a participação dele na cultura deste país? Necas. Getúlio foi eleito graças a uma edição, coligida na época, de seus discursos. Pela terceira vez: Pois é.

Populismo e magia à parte, é preciso considerar que Paulo Coelho é notável para aqueles que consideram a sua produção digna de nota, o que não são poucos. Mas me compadeço com Quintana quando dizem que Paulo Coelho é um mago; acreditam que ele é mesmo um mago, ele faz milagres, não é?

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!


Mas volto a Borges que por meio de uma simples descrição dizia muito.

Excerto de O Zahir (do Borges, tá?)

Em Buenos Aires, o Zahir é uma moeda comum, de vinte centavos; marcas de navalha ou de canivete riscam as letras N T e o número dois; 1929 é a data gravada no anverso. (Em Guzerat, em fins do século XVIII, um tigre foi Zahir; em Java, um cego da mesquita de Surakarta, que os fiéis apedrejaram; na Pérsia, um astrolábio que Nadir Shah mandou atirar no fundo do mar; nas prisões do Mahdi, por volta de 1892, uma pequena bússola que Rudolf Carl von Slatin tocou, envolta numa dobra de turbante; na mesquita de Córdoba, segundo Zotenberg, um veio no mármore de um dos mil e duzentos pilares; entre os judeus de Tetuan, o fundo de um poço.) Hoje é 13 de novembro; no dia 7 de junho, de madrugada, chegou às minhas mãos o Zahir; não sou o que então eu era, mas ainda me é dado recordar, e talvez contar, o ocorrido. Se bem que, parcialmente, ainda sou Borges.

(O Zahir, em O Aleph, de Jorge Luis Borges. São Paulo: Cia das Letras, 2008. Tradução de Davi Arrigucci Jr.)

domingo, 1 de agosto de 2010

Sintonia

Sintonia é algo muito importante. Entre pessoas, no meio familiar, no meio profissional. Ideias, empreendimentos... para tudo dar certo, devem estar em perfeita sintonia.

E não é em vão que falo desta boa ferramenta que faz com que tantos não pereçam à míngua, tudo por causa de uma rele e fina sintonia.

Qual não é a surpresa quando se assiste a um filme de Robert Aldrich e observa Joan Crawford e Bette Davis numa plena, controversa e ilibada sintonia. É de matar. Ou de morrer. Um filme que faz-nos ganir de raiva, ou rir de ódio com a risada macabra de Jane Hudson ao servir uma "iguaria" a Blanche Hudson, sua irmã.

Robert Aldrich sabe que é importante a sintonia, por isso escala Crawford para ser a desavisada e vítima irmã de Davis. Tudo absolutamente perfeito: sintônico!

O que terá acontecido a Baby Jane? é maluco, soberbo, indigesto, frio... e exuberante!

Tudo por causa da sintonia que nos é mostrada desde o início, e nos é vivificada no fim.

Que Deus salve os clichês, mas o filme é um esplendor, vil e tem uma sintonia...

Quem não o assistir não saberá por que e por qual razão fala-se tanto de sintonia ao ver Crawford e Davis lado a lado.