quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Wilson Martins

Este blogue não pretende transformar-se num obituário, não mesmo. Mas, assim como lembrou da despedida desse plano por parte de Salinger há algumas semanas, não há como não falar de outra pessoa que contribuiu para que a literatura não fosse uma coisa chata, como tantas que há no mundo.

Me refefiro a Wilson Martins, pois é difícil que nenhum estudante de literatura ou apaixonado por esta arte aqui no Brasil - e em diversos lugares do mundo - não tenha ouvido falar dele. E seria se o lessem, se não é pedir demais. Mas eu acho que é pedir demais. Não costumo e não gosto de ater-me a superlativismos, mas Wilson Martins é, sem sombra de dúvidas, o maior crítico literário que este país já produziu. E olha que, embora nosso país ainda não tenha cultura de produzir formadores de opinião em grande escala, aqui nasceram Antonio Candido, Ivan Junqueira, Afrânio Coutinho, Antonio Carlos Secchin, João Adolfo Hansen, Raimundo Carrero, Silvio Romero, Alfredo Bosi, Gilda de Mello e Souza, Roberto Schwarz e muitos outros.

Wilson Martins deixa uma obra vasta, para os futuros escritores e pensadores de nosso país, o que esperamos que sejam muitos. Em sua última fase como professor, lecionava literatura brasileira na Universidade de Nova Iorque. Autor da grandiosa História da Inteligência Brasileira, obra com a qual ainda não tive contato. Mas foi por outra obra de Martins que aos poucos descobri a relevância de seu trabalho e o seu papel: Crítica Literária no Brasil. Considero o seu trabalho heroico, porque ser professor, não guardar o conhecimento adquirido para si e ser portador do conhecimento que tinha num país como o Brasil, considero que indivíduos como ele possam ser chamadas de heróis. E como o bom brasileiro que escolhe esse caminho, tinha pouco espaço por aqui, pouca visibilidade, ainda que o seu trabalho fosse tão grande e de muitos resultados, coisa que não se vê de alguns que se intitulam intelectuais e recebem todos os espaços possíveis nos meios midiáticos nacionais.

Martins rolou a bola para que outros a chutassem; e nós, jovens ou não, testemunhamos dias em que a cultura brasileira, em especial a literária, precisa ser melhor trabalhada junto aos jovens e adultos para que, através dela, estabeleça senso de crítica e de afirmação. A arte literária é, antes que só a dualidade ficção/realidade que se transporta ao papel, é o uso que se faz dela; portanto, é instrumento de libertação. Estou aprendendo ainda, e tenho tanto por ler, por ver, por testemunhar nesta arte que Wilson Martins, como poucos no Brasil, deu forma e transformou.

A literatura é caracterizada no trabalho de Martins com uma das ferramentas que nos auxilia no entendimento de nossa época. O nosso próprio entendimento.

Faz falta.

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