sábado, 28 de novembro de 2009

Reminiscências sobre uma cidade em síncope

"- É o Exu Tranca-Rua. Raça do 'carai'.
- Alimenta o governo com imposto. Imposto pago, dinheiro gasto e não visto.
- Obra do governo do cão!
- Asfalto não bebe água.
- É muito sangue pra pouca artéria..."

A lâmina d'água escorre pelo vidro pelo lado de fora. Estou dentro, pra dentro não há chuva. Ela só acontece lá fora. Um mundo se dissolve em água, impaciência e atraso. E a água não serve para baixar o fogo da consciência.

"- Raça do 'carai'."

Passaram-se já 20 minutos e eu ainda estou preso no semáforo. O ônibus não se move. Proibiram o trânsito? Não, é o próprio trânsito que impossibilita o trânsito.

São Paulo, quase 8 da noite: no ônibus, vejo uma fila de inequívocas luzes vermelhas acendendo-se em meio à lentidão dos maus e dos bons. O ônibus sobe a ponte, e é dali que vejo o rio que corre sujinho sujinho... Nem corre mais, já morreu. E por que insistem com o rio? Não sei, mas acredito que seja pelo mesmo motivo que insistem com as pessoas. Acreditam que do rio ainda possa fluir um fio de saúde. Como ocorre entre as pessoas, acreditam que dali possa fluir saúde e um riso raso, que se aprofunda dentro, pra dentro, pra sempre.

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