Não é de hoje que vemos adaptações de obras literárias para o cinema, mas nos últimos tempos este número tem sido maior, e parece que os estúdios, cada vez mais, apostam na produção de filmes baseados em livros. Muito interessante, principalmente quando o livro é bom e a adaptação herda a qualidade do livro tornando-se uma obra ímpar, e não uma mera cópia do original.
Discute-se muito sobre as adaptações, e fala-se muito que o filme nunca é tão bom quanto o livro. Tal afirmação é só parcialmente correta. Devemos admitir que transportar um livro, um clássico da literatura para a linguagem fílmica requer, no mínimo, habilidade de roteiristas e boa análise sensorial de diretores. O roteiro adaptado requer maior cuidado em relação aos diálogos, na montagem dos personagens, nas sequências que serão utilizadas para compor a história - o tempo cronológico cinemático encaixar-se no tempo literário que será apresentado na tela, porque, claro, a adaptação já é uma história conhecida. O filme adaptado poderá, como optar produtores e diretores, ser livremente inspirado ou uma adaptação fiel ao conto, novela ou romance.
Claro, existem romances que talvez sejam infilmáveis, ou melhor, inalcançáveis pela cinemática, por aspectos próprios dos romances, inerentes à linguagem onírica peculiar às letras, que transborda à sintaxe, regência e imagem, como, por exemplo, as novelas de Franz Kafka. Mas seria muito bom ver, um dia, uma adaptação de A Metamorfose, mesmo parecendo ser dificílimo entender como fariam verter a agonia de Gregor Samsa ao acordar um dia e ver-se metamorfoseado num inseto. Entende-se - um inseto. Kafka em nenhum instante cita que tipo de inseto, se é um besouro, uma mosca, uma barata ou um escaravelho, portanto, cabe a nossa imaginação trabalhar com esta expressão, com este enredo surreal e compor a nossa ideia particular de Gregor Samsa. A palavra e a imagem são, evidentemente, meios distintos de veiculação de informação e pensamento, e transportar o pensamento e enredo kafkiano, tal como os vemos em seus livros, para as telas, não é algo simples e que, certamente, exigirá muito suor aos engenhosos da arte cinematográfica. Mas, sem dúvida, seria uma experiência interessante. Orson Welles bem que tentou; levou ao cinema a novela O Processo, do autor tcheco. É um bom filme, mas ainda longe da grandeza e da semântica do romance. Welles era mesmo audacioso pois, além de Kafka, levou ao cinema adaptações de William Shakespeare, como Othello e Macbeth - Reinado de Sangue.
Para desmentir este mito do livro ser sempre superior ao filme, há na história do cinema adaptações que se tornaram independentes da obra original, equivaleram ou mesmo suplantaram em importância e qualidade as obras em que foram baseadas. Vão alguns deles:
Carrie, a Estranha, de Brian de Palma
- livro homônimo de Stephen King
O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson
- livro homônimo de J. R. R. Tolkien
Depois daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni
- conto Las Babas del Diablo, de Julio Cortázar
Mágico de Oz, de Vincent Minelli
- livro homônimo, de Lyman Frank Baum
Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan
- peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams
Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock
- livro homônimo de Cornwell Woolrich
Solaris, de Andrei Tarkovsky
- livro homônimo de Stanislaw Lem
Jules e Jim, de François Truffaut
- livro homônimo de Henri-Pierre Roché
O Dia em que a Terra Parou, de Robert Wise
- conto Adeus ao Mestre, de Harry Bates
O Falcão Maltês, de John Huston
- livro homônimo de Dashiell Hammett
Só pra dizer alguns.
No cinema em voga boa parte dos lançamentos - e de destaque - são os filmes adaptados de obras literárias. Vale citar alguns:
O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher
- conto homônimo de F. S. Fitzgerald
O Leitor, de Stephen Daldry
- livro homônimo de Bernard Schlink
Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes
- livro Revolutionary Roads, de Richard Yates
A Bela Junie, de Christophe Honoré
- inspirado livremente no livro A Princesa de Cléves, de Madame de Lafayette
Interessante que, sobre o conto de Fitzgerald, O Curioso Caso de Benjamin Button, o próprio não é tão original, pois Fitzgerald o escreveu com base na frase de Mark Twain, por quem nutria grande admiração: "A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18".
O estreitamento e força do diálogo entre literatura e cinema, que existe desde a criação deste segundo, ganha força na safra nem tão interessante de roteiros originais. O livro e o filme, como meios de informação de massa e não apenas entretenimento, reforçam cada vez mais que toda novidade é uma existência renovada. Como ouvimos dizer há muito, a frase do químico francês Lavoisier: "Nada se cria, tudo se transforma". Nos perguntamos: em que Lavoisier se baseou pra fazer tal afirmação?
As informações e criações parecem mesmo ser circulares, e é bom para todos que neste sistema de renovação haja aperfeiçoamento, boa adequação e harmonia - requisitos fundamentais para a criação, para a boa arte. Processo natural que começa pela água que nos alimenta e rega nossos jardins.
Seguem alguns trailers das obras adaptadas que valem ser vistas, por ora, nos cinemas, e lidas, por horas, em casa:
Discute-se muito sobre as adaptações, e fala-se muito que o filme nunca é tão bom quanto o livro. Tal afirmação é só parcialmente correta. Devemos admitir que transportar um livro, um clássico da literatura para a linguagem fílmica requer, no mínimo, habilidade de roteiristas e boa análise sensorial de diretores. O roteiro adaptado requer maior cuidado em relação aos diálogos, na montagem dos personagens, nas sequências que serão utilizadas para compor a história - o tempo cronológico cinemático encaixar-se no tempo literário que será apresentado na tela, porque, claro, a adaptação já é uma história conhecida. O filme adaptado poderá, como optar produtores e diretores, ser livremente inspirado ou uma adaptação fiel ao conto, novela ou romance.
Claro, existem romances que talvez sejam infilmáveis, ou melhor, inalcançáveis pela cinemática, por aspectos próprios dos romances, inerentes à linguagem onírica peculiar às letras, que transborda à sintaxe, regência e imagem, como, por exemplo, as novelas de Franz Kafka. Mas seria muito bom ver, um dia, uma adaptação de A Metamorfose, mesmo parecendo ser dificílimo entender como fariam verter a agonia de Gregor Samsa ao acordar um dia e ver-se metamorfoseado num inseto. Entende-se - um inseto. Kafka em nenhum instante cita que tipo de inseto, se é um besouro, uma mosca, uma barata ou um escaravelho, portanto, cabe a nossa imaginação trabalhar com esta expressão, com este enredo surreal e compor a nossa ideia particular de Gregor Samsa. A palavra e a imagem são, evidentemente, meios distintos de veiculação de informação e pensamento, e transportar o pensamento e enredo kafkiano, tal como os vemos em seus livros, para as telas, não é algo simples e que, certamente, exigirá muito suor aos engenhosos da arte cinematográfica. Mas, sem dúvida, seria uma experiência interessante. Orson Welles bem que tentou; levou ao cinema a novela O Processo, do autor tcheco. É um bom filme, mas ainda longe da grandeza e da semântica do romance. Welles era mesmo audacioso pois, além de Kafka, levou ao cinema adaptações de William Shakespeare, como Othello e Macbeth - Reinado de Sangue.
Para desmentir este mito do livro ser sempre superior ao filme, há na história do cinema adaptações que se tornaram independentes da obra original, equivaleram ou mesmo suplantaram em importância e qualidade as obras em que foram baseadas. Vão alguns deles:
Carrie, a Estranha, de Brian de Palma
- livro homônimo de Stephen King
O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson
- livro homônimo de J. R. R. Tolkien
Depois daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni
- conto Las Babas del Diablo, de Julio Cortázar
Mágico de Oz, de Vincent Minelli
- livro homônimo, de Lyman Frank Baum
Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan
- peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams
Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock
- livro homônimo de Cornwell Woolrich
Solaris, de Andrei Tarkovsky
- livro homônimo de Stanislaw Lem
Jules e Jim, de François Truffaut
- livro homônimo de Henri-Pierre Roché
O Dia em que a Terra Parou, de Robert Wise
- conto Adeus ao Mestre, de Harry Bates
O Falcão Maltês, de John Huston
- livro homônimo de Dashiell Hammett
Só pra dizer alguns.
No cinema em voga boa parte dos lançamentos - e de destaque - são os filmes adaptados de obras literárias. Vale citar alguns:
O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher
- conto homônimo de F. S. Fitzgerald
O Leitor, de Stephen Daldry
- livro homônimo de Bernard Schlink
Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes
- livro Revolutionary Roads, de Richard Yates
A Bela Junie, de Christophe Honoré
- inspirado livremente no livro A Princesa de Cléves, de Madame de Lafayette
Interessante que, sobre o conto de Fitzgerald, O Curioso Caso de Benjamin Button, o próprio não é tão original, pois Fitzgerald o escreveu com base na frase de Mark Twain, por quem nutria grande admiração: "A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18".
O estreitamento e força do diálogo entre literatura e cinema, que existe desde a criação deste segundo, ganha força na safra nem tão interessante de roteiros originais. O livro e o filme, como meios de informação de massa e não apenas entretenimento, reforçam cada vez mais que toda novidade é uma existência renovada. Como ouvimos dizer há muito, a frase do químico francês Lavoisier: "Nada se cria, tudo se transforma". Nos perguntamos: em que Lavoisier se baseou pra fazer tal afirmação?
As informações e criações parecem mesmo ser circulares, e é bom para todos que neste sistema de renovação haja aperfeiçoamento, boa adequação e harmonia - requisitos fundamentais para a criação, para a boa arte. Processo natural que começa pela água que nos alimenta e rega nossos jardins.
Seguem alguns trailers das obras adaptadas que valem ser vistas, por ora, nos cinemas, e lidas, por horas, em casa:
A Bela Junie
Foi Apenas Um Sonho
O Leitor