quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Brasilidade

Não sou índio. Não sou negro. Nem pardo. Nem jambo. Nem mulato. Sou duma cor que não é aquela cor. Ou de cor que não se pronuncia porque não se sabe o nome. Não se sabe, mesmo. Sou brasileiro, mesmo sem penachos, sem aldeias, sem gritos selvagens.

Não tenho ancas largas. Não jogo futebol. Não moro no Rio. Nem sou da Amazônia. Não tenho abacaxi ou qualquer outra fruta na cabeça. Nem flanelo no corcovado. Não adoro o Cristo Redentor. Acho interessante todas as belezas do meu país, mas quero conhecer outros também. Os vizinhos, os longínquos e distantes. Mesmo assim, com tudo isso, sou brasileiro.

Minha brasilidade não é estampada em selo, cantada em música. Leio os alemães, os franceses, os uruguaios, os japoneses. Assisto os franceses, os italianos, os americanos, os mexicanos. Visito os paraguaios, os argentinos, os bávaros. Sou paulistano, essencialmente brasileiro.

Vi o Nordeste; nadei nos rios do Pantanal; observei tanta coisa bonita nos litorais brasis... Não conheço o meu sotaque, mas sou, do subúrbio da maior cidade do meu país. Não tenho símbolos, não canto bossa e, mesmo assim, sou do Brasil.

Não ouço samba, mas sei da importância dele. A minha existência é paulista, mas dimensiono o meu continente Brasil também fora dos atlas.

Posso até ouvir Tom, mas Bowie e Dylan também. Posso saber da relevância dos Caetanos daqui, mas gosto dos Sinatras de lá. A minha existência e a minha cidadania vai além de quatro cores, são de todas as cores. Sou do Brasil, do azul-anil, amarelo-ouro, verde e branco, mas sou das imensidões das outras cores que colorem o mundo.

Sou da Terra, do Universo infinito, caibo além das fronteiras, resido no mundo.

Meu RG é brasileiro, e os meus caminhos são essencialmente de zonas não demarcadas, de toda a esfera, meu habitat deve ser maior, tal qual objetivos e sonhos - ilimitados.

Minha brasilidade está além do Brasil, porque está aqui, cuida do jardim, vai ao cinema, cuida de si, compra pão, trabalha vários dias para ter só alguns de descanso.

Sou essencialmente da América do Sul, sem orgulho, sem preconceito, com dignidade fundamental. Brasileiro além dos mitos, dos folclores. Do caos, da rotineira metamorfose.

Sou brasileiro suburbano, tranqüilo, metódico, honesto, desajustado, mas essencialmente preocupado com os rumos do país, do mundo.

Chega de insensatez, para viver do jeito que se dá, e lutar para o melhor, do nosso jeito, do melhor jeito. Ser o brasileiro dos dias, não dos cartões postais, nem das canções que só citam a beleza (que não pode ser ignorada) e desconsideram a nossa crueza (que não pode ser ignorada).

Sou brasileiro. Se desafinado? Não sei. Na batida dos dias, para ser herói.

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