Mia Farrow, na adaptação para o cinema de O Grande Gatsby por Francis Ford Coppola
Sem fazer as vezes de Francis Scott Fitzgerald, mas se O Grande Gatsby pudesse ter um subtítulo, talvez este citado no título deste post se encaixaria perfeitamente no que a sua obra pretende apresentar. The Great Gatsby (título original) é um retrato devastador dos EUA pós 1ª guerra mundial. Um país imerso numa depressão econômica nunca antes vista, numa imensão de dúvidas onde as certezas sobre as pretensões daquele país sobre o seu destino e o do mundo começariam a tomar forma então a partir dali, até os nossos dias. Toda a situação é bem desenhada por Fitzgerald, mas parece que, por algum momento, houve uma espécie de Wonderland no meio da América, tal como aquela em que a Alice foi transportada através do espelho. O "País das Maravilhas" poderia ser muito bem a casa do magnífico Gatsby. Nas linhas que apresentam as festas suntuosas na casa de Gatsby vemos uma outra América, observamos naquelas noites o ideal da terra promissora, encantada, portentosa, vemos a terra da esperança. A mansão de Gatsby era o reduto da salvação, ali não havia depressão, nem econômica, nem emocional. Mas enquanto os olhos correm por aquelas linhas instituídas por F. S. Fitzgerald, começamos a notar também que se há algo verdadeiro nas festas, nos convidados e no próprio protagonista, esta verdade reside nas aparências, a "aparência" é a maior verdade e talvez a única. Gatsby tinha um objetivo muito bem definido ao conceder as festas em sua mansão, festas que num primeiro momento é vista de longe por Nicky Carraway, o narrador, que posteriormente viria a se tornar amigo de Gatsby e ser convidado pelo anfitrião para compartilhar das alegrias e festividades em seu jardim. O objetivo do anfitrião era recuperar um amor perdido, não necessariamente perdido, mas ausente, distante de Daisy - síntese homogênica da mulher americana sem identidade, do início do século XX. O que a priori parece ser mais uma daquelas fábulas de amor, com celebrações e reivindicações súbitas pelo verdadeiro amor, começa a ganhar contornos de uma tragédia, que a fará situar-se cronologicamente no tempo e na própria realidade do mundo de então. Daisy, amor de longa data de Gatsby, havia se casado com o também milionário Tom Buchanan. Gatsby e Daisy não se viam há cinco anos. Na ocasião do casamento de Daisy com Tom, Gatsby era pobre, o que o deixava em desvantagem em relação a Tom em chances de contrair matrimônio com Daisy. Foi quando Gatsby traçou o plano de construir um império - enriquecer e reconquistar a amada; a barganha monetária e visibilidade social de Gatsby, em seu pensamento, seriam diferenciais para alcançar a sua meta. Enfim, passados os anos, Gatsby enriqueceu - por motivos que o leitor tomará conhecimento no decorrer da história contada por Nick Carraway, que tem participação discreta na trama - mas os intentos do protagonista não tomaram forma, ou o resultado não apresentou-se como Gatsby planejava.
Gatsby comprou uma mansão nas vizinhanças de Daisy para justamente chamar a atenção desta, mas nem Daisy, nem Tom compareciam às festas promovidas por Gatsby, a situação o tornava uma pessoa solitária, em meio a toda a high society do leste americano, quando então o anfitrião se aproxima de Nick, narrador da história. Nesta trama serão exibidos os estratagemas dos hábitos inúteis de uma comunidade fútil, principalmente quando Gatsby percebe que seus objetivos, canalizados pelas noites de bebidas e comidas, patrocinadas no vasto jardim de sua mansão, não serão alcançados, ao menos da forma como sempre sonhou. Talvez não haja nenhum romance tão fotográfico para exibir ou antecipar o American Way Life, exibindo-o de dentro para fora, numa época em que Hollywood começava a ser a referência cultural que viria a ser então exportada e exibida para o mundo através dos movimentos mágicos dos pés de Fredie Astaire, posteriormente, pela alma amarfanhada de Montgomery Clift, ou pelos olhos de Bette Davis.
A esperança levada até o fim por Gatsby era como o castelo da Disney - lindo e superficial - era quase infundida. Como um castelo que não é habitado, só serve de imagem e fantasia, mas fazemos de conta que ele tem sua razão e brilha aos nossos olhos de quem vai até ele para admirá-lo.
A literatura, como já presenciado tantas vezes, é manejada como a pedra filosofal para tencionar e medir as possibilidades da alma e dos instintos humanos, sem que estas representações possam ser identificadas como simples exageros ou somente frutos das imaginações dos artistas que com ela trabalham. Tanto Gatsby, como Clarissa Dalloway (Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf), Eduard e Charlotte (As Afinidades Eletivas, de Goethe), são retratos, vezes pútreos, vezes imprevísiveis num espaço bucólico ou mesmo sórdidos, mas sempre humanos de um sumário questionamento de nossos papéis sociais, de nossas relatividades no mundo.
Gatsby comprou uma mansão nas vizinhanças de Daisy para justamente chamar a atenção desta, mas nem Daisy, nem Tom compareciam às festas promovidas por Gatsby, a situação o tornava uma pessoa solitária, em meio a toda a high society do leste americano, quando então o anfitrião se aproxima de Nick, narrador da história. Nesta trama serão exibidos os estratagemas dos hábitos inúteis de uma comunidade fútil, principalmente quando Gatsby percebe que seus objetivos, canalizados pelas noites de bebidas e comidas, patrocinadas no vasto jardim de sua mansão, não serão alcançados, ao menos da forma como sempre sonhou. Talvez não haja nenhum romance tão fotográfico para exibir ou antecipar o American Way Life, exibindo-o de dentro para fora, numa época em que Hollywood começava a ser a referência cultural que viria a ser então exportada e exibida para o mundo através dos movimentos mágicos dos pés de Fredie Astaire, posteriormente, pela alma amarfanhada de Montgomery Clift, ou pelos olhos de Bette Davis.
A esperança levada até o fim por Gatsby era como o castelo da Disney - lindo e superficial - era quase infundida. Como um castelo que não é habitado, só serve de imagem e fantasia, mas fazemos de conta que ele tem sua razão e brilha aos nossos olhos de quem vai até ele para admirá-lo.
A literatura, como já presenciado tantas vezes, é manejada como a pedra filosofal para tencionar e medir as possibilidades da alma e dos instintos humanos, sem que estas representações possam ser identificadas como simples exageros ou somente frutos das imaginações dos artistas que com ela trabalham. Tanto Gatsby, como Clarissa Dalloway (Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf), Eduard e Charlotte (As Afinidades Eletivas, de Goethe), são retratos, vezes pútreos, vezes imprevísiveis num espaço bucólico ou mesmo sórdidos, mas sempre humanos de um sumário questionamento de nossos papéis sociais, de nossas relatividades no mundo.