Estou com minhas costas doendo, doendo muito, talvez pela péssima postura nesta cadeira de plástico. E plástico é uma das matérias que simbolizam muito bem nossas ações e partidos neste início de século: seres constituídos de plástico. Mas há ainda quem seja feito de um material diferente, primitivo, pessoas de um jeito diferente que fazem um som não diferente, mas lúcido, e lucidez em meio a esta vã embriaguez de fumaça é tudo de que precisamos. Há pessoas que parecem manipular instrumentos já tão conhecidos de um jeito particular, e vozes conhecidas afinadas com nossos ouvidos e que reverberam por essa caixa de ressonância que têm sido nossos pensamentos, belos ou malditos. Basia Bulat não é diferente, mas não é igual, é Basia Bulat com sua voz de eterna súplica, de degeneração da música que ela mesmo fabrica. Até tentei achar algum paralelo, mas é difícil, ela não é somente linda e forte, mas sua voz é de um ritmo despreocupante que nos traz à atmosferas brancas e serenas, sua voz parece evocar chuva naquela tardezinha de sábado onde o sol já escaldante não faz muito sentido a não ser pelo próprio desgaste que a perda de água e a cabeça quente nos proporciona; com a chuva e a voz de Basia somos regenerados. Basia Bulat é mais uma dessas lindas vozes vindas do Canadá, com seu folk levado ao sentido primeiro dessa palavra, é folclórico pela simplicidade conectada ao som rico em instrumentos e despretensão, o que a faz ainda mais bonita do que é, com seu enviesado olhar de anjo. Oh, My Darling é o seu primeiro e já viciante trabalho, e é ainda mais quando espera-se pela chuva de sábado à tarde ouvindo The Pilgriming Vine e Snakes and Ladders. Com um cheiro de chuva passando pela minha janela e a voz de Basia passando pelos meus ouvidos nesta tarde, minhas costas dóem menos.