quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Outros instantes

Os "Instantes" e os "Outros Instantes" - o passado e o presente texto desta página - são uma forma de brincar, de conversar com os textos do mestre Jorge Luís Borges (ou mesmo com os seus não-textos).

"El Instante" é um poema que davam como Borges sendo seu autor, mas não é. É um texto que depois foram saber ser de autoria de Nadine Stair. Um poema-objeto, fala do que não costumamos dar atenção, pois estamos sempre ocupados com o futuro.

Este "Outros Instantes" faz analogia à "Otras Inquisiciones (1952)" (Outras Inquisições), dos livros mais notáveis de Borges - o argentino que aprendeu o inglês muito antes do castelhano.

A escolha de "Instantes" foi realmente inconsciente, pois a brincadeira se configura somente agora, com este "Outros Instantes".

Para complementar, para ser breve e outras boas outras coisas, encerro com um não-Borges, com um texto que era pra ser dele (ou não), mas não é. E nem sei se é mesmo de Nadine Stair.

É muito mais bonito e confiável ter uma obra assinada por Drummond, Borges, Pessoa ou Machado de Assis. O mundo internético sabe disso.

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.

Um comentário:

@amaurit disse...

cara, acredita em coincidências?? Leia "Café da manhã", acho que tem a ver com o que li aqui, e agora!