Até um tempo atrás, se algum cliente reportasse a mim dessa maneira:
- Por favor, você tem "O Aleph"?
Bom, eu, com um sorriso sorrateiro, ficaria feliz com a busca do cliente, afinal este era um daqueles que de vez em quando me deparava para partilhar algo interessante do mundo da literatura... Ah, eram outros tempos.
Hoje não sou mais vendedor de livros, mas sei que os vendedores de livros de hoje também sabem que se alguém pedir a eles "O Aleph" não será esse um predicado literário voltado àqueles que buscam boa leitura, pelo menos não somente. O Aleph, título do clássico livro de contos de Jorge Luis Borges, é o nome do novo livro de Paulo Coelho. Pois é.
Enquanto Borges foi gênio, de fato, Coelho se autointitula 'mago'. Pois é outra vez.
O livro de Borges é crucial para o que se denomina paixão pelo aprender, pelo saber, por ler, pela metafísica da vida. O título do livro de Coelho: eu não sei, soa uma ignomínia; não à Borges, mas à literatura como um todo.
O mago é 'imortal' 'e não sabe o que faz'. Ou sabe?
Diga-se, isso não é a primeira vez que Paulo Coelho infama Borges, ou sei lá coisa que o valha. Pois, em 2005, lançou o livro O Zahir, que, por coincidência ou não, é o nome de um dos contos do Aleph de Borges... e um dos melhores do livro.
Qual é a do mago eu não sei, mas costuma conseguir êxito no que intenta, talvez por isso seja mesmo um mago. A mesma academia que rejeitou Carlos Drummond de Andrade o acolheu de braços abertos, para o aconchego da câmara do chá das cinco... Politicagens: Getúlio Vargas também foi aceito pela academia. Me diga o livro de Getúlio ou a participação dele na cultura deste país? Necas. Getúlio foi eleito graças a uma edição, coligida na época, de seus discursos. Pela terceira vez: Pois é.
Populismo e magia à parte, é preciso considerar que Paulo Coelho é notável para aqueles que consideram a sua produção digna de nota, o que não são poucos. Mas me compadeço com Quintana quando dizem que Paulo Coelho é um mago; acreditam que ele é mesmo um mago, ele faz milagres, não é?
- Por favor, você tem "O Aleph"?
Bom, eu, com um sorriso sorrateiro, ficaria feliz com a busca do cliente, afinal este era um daqueles que de vez em quando me deparava para partilhar algo interessante do mundo da literatura... Ah, eram outros tempos.
Hoje não sou mais vendedor de livros, mas sei que os vendedores de livros de hoje também sabem que se alguém pedir a eles "O Aleph" não será esse um predicado literário voltado àqueles que buscam boa leitura, pelo menos não somente. O Aleph, título do clássico livro de contos de Jorge Luis Borges, é o nome do novo livro de Paulo Coelho. Pois é.
Enquanto Borges foi gênio, de fato, Coelho se autointitula 'mago'. Pois é outra vez.
O livro de Borges é crucial para o que se denomina paixão pelo aprender, pelo saber, por ler, pela metafísica da vida. O título do livro de Coelho: eu não sei, soa uma ignomínia; não à Borges, mas à literatura como um todo.
O mago é 'imortal' 'e não sabe o que faz'. Ou sabe?
Diga-se, isso não é a primeira vez que Paulo Coelho infama Borges, ou sei lá coisa que o valha. Pois, em 2005, lançou o livro O Zahir, que, por coincidência ou não, é o nome de um dos contos do Aleph de Borges... e um dos melhores do livro.
Qual é a do mago eu não sei, mas costuma conseguir êxito no que intenta, talvez por isso seja mesmo um mago. A mesma academia que rejeitou Carlos Drummond de Andrade o acolheu de braços abertos, para o aconchego da câmara do chá das cinco... Politicagens: Getúlio Vargas também foi aceito pela academia. Me diga o livro de Getúlio ou a participação dele na cultura deste país? Necas. Getúlio foi eleito graças a uma edição, coligida na época, de seus discursos. Pela terceira vez: Pois é.
Populismo e magia à parte, é preciso considerar que Paulo Coelho é notável para aqueles que consideram a sua produção digna de nota, o que não são poucos. Mas me compadeço com Quintana quando dizem que Paulo Coelho é um mago; acreditam que ele é mesmo um mago, ele faz milagres, não é?
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Mas volto a Borges que por meio de uma simples descrição dizia muito.
Excerto de O Zahir (do Borges, tá?)
Em Buenos Aires, o Zahir é uma moeda comum, de vinte centavos; marcas de navalha ou de canivete riscam as letras N T e o número dois; 1929 é a data gravada no anverso. (Em Guzerat, em fins do século XVIII, um tigre foi Zahir; em Java, um cego da mesquita de Surakarta, que os fiéis apedrejaram; na Pérsia, um astrolábio que Nadir Shah mandou atirar no fundo do mar; nas prisões do Mahdi, por volta de 1892, uma pequena bússola que Rudolf Carl von Slatin tocou, envolta numa dobra de turbante; na mesquita de Córdoba, segundo Zotenberg, um veio no mármore de um dos mil e duzentos pilares; entre os judeus de Tetuan, o fundo de um poço.) Hoje é 13 de novembro; no dia 7 de junho, de madrugada, chegou às minhas mãos o Zahir; não sou o que então eu era, mas ainda me é dado recordar, e talvez contar, o ocorrido. Se bem que, parcialmente, ainda sou Borges.
(O Zahir, em O Aleph, de Jorge Luis Borges. São Paulo: Cia das Letras, 2008. Tradução de Davi Arrigucci Jr.)
Excerto de O Zahir (do Borges, tá?)
Em Buenos Aires, o Zahir é uma moeda comum, de vinte centavos; marcas de navalha ou de canivete riscam as letras N T e o número dois; 1929 é a data gravada no anverso. (Em Guzerat, em fins do século XVIII, um tigre foi Zahir; em Java, um cego da mesquita de Surakarta, que os fiéis apedrejaram; na Pérsia, um astrolábio que Nadir Shah mandou atirar no fundo do mar; nas prisões do Mahdi, por volta de 1892, uma pequena bússola que Rudolf Carl von Slatin tocou, envolta numa dobra de turbante; na mesquita de Córdoba, segundo Zotenberg, um veio no mármore de um dos mil e duzentos pilares; entre os judeus de Tetuan, o fundo de um poço.) Hoje é 13 de novembro; no dia 7 de junho, de madrugada, chegou às minhas mãos o Zahir; não sou o que então eu era, mas ainda me é dado recordar, e talvez contar, o ocorrido. Se bem que, parcialmente, ainda sou Borges.
(O Zahir, em O Aleph, de Jorge Luis Borges. São Paulo: Cia das Letras, 2008. Tradução de Davi Arrigucci Jr.)
Um comentário:
Ainda tem o Aleph que era personagem de uma novela da Globo!
Postar um comentário