Há quase 10 dias, eu estava num ônibus quando o São Paulo Futebol Clube jogava a segunda partida pela semifinal da Copa Libertadores da América. São Paulo vs. Internacional. O São Paulo venceu o jogo, porém não se classificou à final. Pela regra da competição, o gol marcado fora de casa é o primeiro critério de desempate, quando a soma dos resultados dos jogos é de igualdade entre as equipes.
A perda da possibilidade de disputar mais um título da Libertadores é menor. Futebol, como outros meios, é entretenimento, pelo menos eu encaro assim. E a tristeza de um torcedor, muitas vezes, é compensada com gestos ou posturas emblemáticos de seu time do coração. O São Paulo este ano joga um futebol aquém das expectativas, mas, dentro de suas limitações, no jogo do dia 5 de agosto, demonstrou ao menos vontade de vencer. Isso somente não ganha jogo. Ainda que a equipe saia derrotada, o que não foi o caso, ou eliminada, há de fazer o seu torcedor se sentir consolado ao menos pelo espírito de luta.
Mas naquela noite há um fato maior que tudo isso que me fez reflexivo. No ônibus em que eu estava entrou um menino, de seus 10 ou 11 anos, vendendo balas, drops. O que é comum no Brasil, infelizmente. Depois de oferecer a bala para os passageiros que estavam sentados no ônibus, o menino parecia cansado, logo procurou o primeiro lugar ao seu alcance pra se sentar, que era ao meu lado. O menino, com a sua caixinha de drops no colo, se virou pra mim, cutucando o meu ombro, quando começou o nosso diálogo:
- Cê tá ouvindo o jogo do São Paulo?
- Sim.
Ele prosseguiu:
- Cê é são-paulino?
- Sim. E você?
- Eu sou também... Quanto tá o jogo?
- 2x1 para o São Paulo...
- Caramba, o São Paulo precisa fazer mais um, né?
- É... Mas tá dificil.
- Eu posso ouvir o jogo com você?
- Ah, pode... - e entreguei um dos fones de ouvido para ele poder acompanhar a partida.
Foram mais ou menos 20 minutos de jogo em que dividi o fone com o menino. Por um momento esqueci do jogo, e fiquei reparando nas expressões dele quando o São Paulo desperdiçava uma chance de gol ou quando era contra-atacado pelo Internacional... O menino parecia mesmo aflito.
O jogo ainda não havia terminado quando chegamos ao destino final do ônibus, quando o menino devolveu o fone, e me disse:
- Vamos acreditar, né? - e agradeceu por ter lhe emprestado o fone.
Eu só disse um tímido "de nada".
Quase onze da noite e uma criança vendendo balas no centro de São Paulo, de ônibus em ônibus. De algum modo fiquei fragilizado, mas o menino parecia não estar preocupado com coisa alguma.
Ali me parecia que desejava somente que o seu time vencesse, talvez para partilhar com alguém, consigo que ele era, em suma, um vencedor, porque o seu time havia vencido. Não sei das condições de vida do menino, nem de sua família, mas a minha ignorância e hipocrisia, fruto da desgraça cotidiana, foi estilhaçada naquele momento.
O menino embarcou em outro ônibus. Se não encontrou outro companheiro de viagem que divida o som do rádio, só deve ter sabido em casa ou no dia seguinte, na primeira banca de jornal, que o time dele não fez o placar que precisava.
Pensei no rosto do menino quando ele disse "tem que acreditar, né?"
Tive uma infância limitada, pobre, passei por apertos, mas nunca me faltou uma casa e eu não precisei vender balas nos ônibus. Espero, sinceramente, que este garoto continue acreditando, agora na força da vida, e que a realidade dele como homem seja bem diferente da que ele carrega enquanto menino.
Digo para mim: "tem que acreditar". Acreditar em algo bem maior que um jogo de futebol. Algo que me impele lembrar desse fato e que me faz esquecer tantos outros, que me empurra para algo bem maior, e que não posso esquecer.
Mas naquela noite há um fato maior que tudo isso que me fez reflexivo. No ônibus em que eu estava entrou um menino, de seus 10 ou 11 anos, vendendo balas, drops. O que é comum no Brasil, infelizmente. Depois de oferecer a bala para os passageiros que estavam sentados no ônibus, o menino parecia cansado, logo procurou o primeiro lugar ao seu alcance pra se sentar, que era ao meu lado. O menino, com a sua caixinha de drops no colo, se virou pra mim, cutucando o meu ombro, quando começou o nosso diálogo:
- Cê tá ouvindo o jogo do São Paulo?
- Sim.
Ele prosseguiu:
- Cê é são-paulino?
- Sim. E você?
- Eu sou também... Quanto tá o jogo?
- 2x1 para o São Paulo...
- Caramba, o São Paulo precisa fazer mais um, né?
- É... Mas tá dificil.
- Eu posso ouvir o jogo com você?
- Ah, pode... - e entreguei um dos fones de ouvido para ele poder acompanhar a partida.
Foram mais ou menos 20 minutos de jogo em que dividi o fone com o menino. Por um momento esqueci do jogo, e fiquei reparando nas expressões dele quando o São Paulo desperdiçava uma chance de gol ou quando era contra-atacado pelo Internacional... O menino parecia mesmo aflito.
O jogo ainda não havia terminado quando chegamos ao destino final do ônibus, quando o menino devolveu o fone, e me disse:
- Vamos acreditar, né? - e agradeceu por ter lhe emprestado o fone.
Eu só disse um tímido "de nada".
Quase onze da noite e uma criança vendendo balas no centro de São Paulo, de ônibus em ônibus. De algum modo fiquei fragilizado, mas o menino parecia não estar preocupado com coisa alguma.
Ali me parecia que desejava somente que o seu time vencesse, talvez para partilhar com alguém, consigo que ele era, em suma, um vencedor, porque o seu time havia vencido. Não sei das condições de vida do menino, nem de sua família, mas a minha ignorância e hipocrisia, fruto da desgraça cotidiana, foi estilhaçada naquele momento.
O menino embarcou em outro ônibus. Se não encontrou outro companheiro de viagem que divida o som do rádio, só deve ter sabido em casa ou no dia seguinte, na primeira banca de jornal, que o time dele não fez o placar que precisava.
Pensei no rosto do menino quando ele disse "tem que acreditar, né?"
Tive uma infância limitada, pobre, passei por apertos, mas nunca me faltou uma casa e eu não precisei vender balas nos ônibus. Espero, sinceramente, que este garoto continue acreditando, agora na força da vida, e que a realidade dele como homem seja bem diferente da que ele carrega enquanto menino.
Digo para mim: "tem que acreditar". Acreditar em algo bem maior que um jogo de futebol. Algo que me impele lembrar desse fato e que me faz esquecer tantos outros, que me empurra para algo bem maior, e que não posso esquecer.
Um comentário:
Acredite mesmo, sempre e com força.
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