domingo, 14 de março de 2010

Novas

O ano não começou. A sintonia capturada pelas antenas de minha percepção diz que o ano-novo é muito velho, passado, tal qual um senhor já de idade avançada, e que mal apara a barba que alcança o peito. Esse velho senhor tem algo a me ensinar? Esse jovem já velho pode me dizer novas, e falar sobre livros velhos e filmes antigos e histórias caducas, esperados também por uma plateia sedenta por novidades?
Mas como tudo isso pode acontecer se as novidades calham de ser as velhas coisas conhecidas, as mesmas que passaram em algum momento por mim, e não as percebi - estava então distraído - que eram coisas novas que se tornariam velhas, mas com um jeito velho demais para serem coisas novas?
"O que esperar das coisas novas já envelhecidas e das velhas ainda novas?", pergunto, quase como um sussurro, ao senhor-quase-jovem. Esse senhor, que não é bem um senhor, mas tem cara de senhor, embora seja ainda um jovem de idade avançada, dá um sorrisinho sorrateiro, coça o queixo enroscando os dedos nos fios da barba espessa e suspira, "Bem, menino, espere tudo, inclusive o que não é esperado", e silencia por uns instantes, e imagino que sua fala, quase gutural, termina ali, quando é chegada a hora de ele seguir um novo rumo, só para não ter que responder questões enfadonhas como a minha, principalmente para um jovem-senhor que é um senhor-jovem, mas ele prossegue com aquela voz cavernosa, "Mas tudo com uma dose de paixão; assim, aí, nenhuma espera, por mais longa que possa ser, será em vão."
Penso um pouco. Tento entender a mensagem daquele menino com cara de velho. "Esperar o não esperado"? Como assim? Confesso que fiquei intrigado, aborrecido, pois eu esperava do senhor-menino alguma resposta que pudesse me ajudar a desemaranhar as linhas do meu pensamento, que anda muito confuso com o passar do tempo, com o passar da minha juventude que vai envelhecendo enquanto minha velhice rejuvenesce; mas o senhor-jovem me deixou sem entender patavinas, fiquei mais lelé.
"O tempo é senhor", é o que ouço. "O tempo segue", é o que sinto. Nada li, nada vi, apenas apreendi pelo espírito, por tudo que aquele senhorzinho-menino me ensinou. E continua. "Ele é voraz." O tempo é o tempo, e é a imensidão que a vida acolhe, sem indagações. A partir disso, posso entender tudo, ainda que não venha a aprender nada.




Sigur Rós - Hoppípolla

Acesse o link a seguir, para assistir ao vídeo em uma melhor resolução:

http://www.youtube.com/watch?v=4L_DQKCDgeM

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