Os começos são muitos. Necessários. Sem eles não há um fim. Um viés, uma razão. Nossos começos existiram para que pudéssemos então existir. Somos livres, partindo-se do princípio, do arbítrio que nos foi dado, como as teses são mesmo de liberdade. Para as razões há um porquê de começar para ser, razoar e perecer. E se ainda não começamos? Convencemo-nos diariamente de que somos de uma matéria impetrável e indestutível de rudezas. Mas, na lucidez, sabemos e não ignoramos o quão parcos somos, e dessa rudeza não nos damos conta na maioria do tempo, pois a vida é algo como não ter lucidez. Aparte disso, há de começar a viver. 'Hei de viver.' 'Hei de ser reavivado nas memórias de quem conheci.' E se não temos esperança? Soletramos discórdia, sim. Manejamos armas, sim. Soerguemos lamúrias, sim. Mas o etéreo está na imaginação do que é 'simples', do que é 'comum', o que não somos, quase sempre. Ser 'um' das desadivinhações. E ocupar-se em atentar ao cheiro do bosque de bétulas e das sâmaras espargidas pelo chão, ainda que o nosso bairro não tenha bétulas, num clima abafado em que aguardamos o gosto da chuva, e também o cheiro dela, da água que cai misericordiamente. É o queixume da chuva que bate no telhado e ecoa em alguma poça do quintal, dos quintais. E se não temos quintal? Um texto de começo, outro de pensamento, outro de fim. Para razoar, outra vez, as nossas conjurações horárias, diárias. E se não há tempo? Tudo começou e outra vez terminou. Estamos num átimo entre o precipício do princípio e da afinidade com os fins. Estamos juntos no mesmo mundo, na mesma entoada. E queremos saber como estamos, quem abençoamos e como vivemos. Num novo começo para principiar o fim. Os começos necessários são muitos. Sem um fim não há 'eles'. Livres somos partindo-se do arbítrio do princípio. Para uma razão há várias razões e sem elas não éramos? Não existiríamos.
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