A experiência diz para ir com calma. Na linguagem pluralista da literatura é preciso ter paciência e muita calma quando se está com um romance em mãos. Frisa-se, não qualquer romance, mas alguns romances. Alguns livros poderão oferecer, sem méritos, a chave da questão que propõem. Outros lhe darão o substrato para que se desenvolva o raciocínio sobre o que está contido nas páginas que irá folhear. Poderia ser apenas mais um bom livro, no princípio, mas que no correr dos olhos sobre as linhas, páginas percebemos estar com uma das melhores realizações da literatura francesa no último século - Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac.
A oportunidade de deparar-se com as páginas de Thérèse Desqueyroux, já, em si, é um feito, pois François Mauriac é um autor que, hoje, passa despercebido pelos jovens aqui no Brasil. Mauriac foi bem lido por aqui, entre as décadas de 40 e 60, quando as suas traduções pipocaram; e foram traduzidos romances, ensaios e poesia deste escritor que foi laureado com o Nobel de literatura em 1952. É digno de nota que a tradução brasileira de Thérèse Desqueyroux é de Carlos Drummond de Andrade, que ainda prefaciou a edição nacional; e o tradutor observa que, como bom conhecedor da matéria, de que é preciso ser muito cuidadoso nesta leitura, já que, pouco a pouco, Mauriac, desenvolve um enredo engendrado em detalhes que poderão parecer desimportantes, mas que serão de grande relevância para capturar a sua atmosfera e, principalmente, delinear as arestas da personagem-título, Teresa. Uma miscelânea de frustração e arrependimento a fará cometer um crime com, ora marido, Eduardo que transforma-se-á na sua maior chaga, dentre tantas que serão apresentadas.
Esta não é uma crítica, nem resenha ou um ensaio sobre a obra, mas apenas a sua apresentação. É bom ler Thérèse Desqueyroux que desafiou os pudicos e o próprio autor - com as suas convicções religiosas esclarecidas e convictas - a rever que a palavra, dependendo de como trabalhada, pode ser mais devastadora que uma gota de veneno.
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