As vinhas prensadas. O suco maturado. Meio em cor. Pouca. Fermentá-lo o suficiente para o rosa furtivo. Da morna cor. Alguns acham que é vinho inferior, menor. Não. Não foi, não é.
O vinho rosé verdadeiro não é mistura de vinhas; é o vinho rosé, na fermentação de muito preparo e cuidado e pouco contato com a casca da uva. Nem muito sangue, nem muita água.
Vinho rosé. Quais vinhas adocicarão meu paladar gulag? Meu corpo tinto, minha alma branca. Meu presente é rosé. Fuligem do vulcão me fez tossir. Preparei novas prensas, medi acidez, marquei o aroma. Não é o tinto e nem o branco que ouso produzir. É o rosé.
O engaço se sustiu da seiva que já não circula por ele. O bagaço é o que produziu líquido, suco para os açúcares do álcool purpurificado, roseado ou branco. Manso, não rege-se novas nas novas uvas da rosca infinita que as carregam para o caminho da prensa, que substitui pés.
Os sentidos se distraem na colheita das uvas da colina. Nem menos engraçadas as uvas desta safra nos trazem aquela graça, única e competente. Exaltado Baco, exclamadas profanações. A hora do deus místico, da cabeça solta, dos sentimentos não-controlados. Acham que é uma lei escrita naquelas colinas. Vinhos diferentes. Outra safra. Outra vida. Vidas diferentes. Não poupam a poupa que nos dá torpor, alegria. Nos dá vinho. Quero rosé.
Não ser o tinto e nem ser o branco causa já uma estranheza. Ser rosé é não ter time ou uma preferência sucinta. Rosé porque é a mediação, talvez. Rosé porque não é vermelhidão da carne, nem a alvidez do espírito. Porque não é de espírito e de carnes. Nem de amor. Nem de dor. Amor e dor nem devem ter cor, mas pintam com vermelho o primeiro, o segundo veste branco. Vejam as brancuras dos hospitais. Os olhos da paixão, crispados, brilhantes e vermelhos.
Mas não. É o meu ser a forma e cor matizado em rosé. Não o meio. Não o fim. Não o início. Mas o único. A forma, cor únicas. Vinho rosé alaranjado ou bem púrpura conhecido. Mas, de nada se sabe das cores e dos aromas dos vinhos. Dos das nossas.
Por não ser de partido ou coligação etílica escolho o rosé, algo que mais se aproxima - não da anarquia - da neutralidade. Mas o rosé não é neutro.
Cabernet Sauvignon ou Merlot para adornar a mesa na decomposição sincera das suas vinhas, do calor fermentado na cor transparente roseada.
Por que furtar-se? Provar um rosé, assistir Judy, sentir que ainda é muito bom ouvir Nara.
Um dia, além de sobre rosé, conversaremos sobre outras coisas, talvez andando pelas ruas de São Francisco ou mesmo, mais fácil, pelas alamedas de São Paulo - a caminho de umas boas conversas, de uns bons vinhos e de umas bem-vindas boas noites.
Começar a falar de vinho e terminar com referência de amizade é tão clichê, eu sei, mas é o meu que ninguém tasca.
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