quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Aurora

Entre montanhas amarelas e minas cor-de-abóbora, havia um pasto verde onde se ouvia o desmanchar de um gargalho num pic-nic. Agora, lá vai Aurora para o sul. Ouvir outro som. Ouvir o machado lascar a madeira. As farpas, sem querer, ferroarem as mãos. Aurora não é só. É muitas. Manhã, noite.

Aurora quer brincar. Quer estabelecer o céu no chão. Carpir amanheceres. Uma leitura de feituras. Aurora não é só:

- Não caso o descaso, agora.

Almofadas verdes, camas azuis, chãos marrons, paredes cremes, cortinas vinhas. O cubo alegre fechado de Aurora. Tinia um zumbido de música. Lá, distante. A crença de Aurora era relevante e revela-se, assim:

- O desamor me fez amor, sempre.

Levanta-se pra zunir. Tantos traços coloridos na televisão de Aurora. Os noticiários e o que não é real. Sonhos ainda não-reais tão leais à cabeça do sonhador.

- Minha cabeça é um sono de estrela.

O que Aurora queria dizer? Tão simples:

- Deito na areia pra sentir o abraço do mundo, a Terra me alcançar e me largar.

Aurora faz alguns tratados sobre líquens de pedras escorregadias, de quintais úmidos. Ou sobre cantos onde o sol não chega. Frestinhas dos ângulos retos, das paredes com os chãos.

Mas Aurora sabe que há tantos outros espécimes, outros fungos, bolores que precisariam mais de um alcance do sol de seus tratados. Do sol do norte de verdejar testas, estúrdios desmantelados corações. Aurora esboça em tantos papéis, em tantas matemáticas, em alguns assovios. Era pra lembrar tudo e todos de que do dia branco sobrava a noite que azulava a janela e os olhos, pra dentro, de Aurora.

- Tintei a memória de fósforo. Ascendi e descendi.

Um silêncio branqueava.

- Quero lambujamor.

Vesparam rosa as idéias imitadas de Aurora. Era original.

Eram meias-noites. As narrações de Aurora sobre o dia claro e a noite escura era o sândalo dos poetas. O suspiro das árvores e o fôlego dos machados. A cantiga dos verdes, a melodia dos azuis. Dos verdes e dos azuis. Das praias, das frias e das vermelhas. Nada e nenhuma história se acaba. Não acaba. Zum.

Uns carros lá fora azucrinavam as ruas; umas ruas tremiam casas; umas casas destelhavam-se com os ventos rudes... Era a sinfonia da Aurora. Nenhum pássaro cantava.

Estórias criadas e adotadas por Aurora. Sem pestanejo.

Ninguém cansou, mas todos dormiram.

Pudera. Findada a madrugada, não era Aurora quem se despedia, mas, sim, quem chegava.

2 comentários:

Imira disse...

Sou mais Aurora que Aura!

Flávia Santos disse...

olha só!! gosto!

Flávia. (garota sovietica).