O início: cinco da manhã. Um bocejo, uma piscadela, uma sensibilidade do ar quente que emana de dentro das cobertas. A noite ainda continua gélida, intimidante, energizante com o desafio que ela propõe. Não me proponho a nada, me desenho, me limo, me sonho. Quero ser o que os meus desejos não são. Enternecer-me por completo nos meus braços franzinos, arrepiados, tecidos e enervados, do calor e do frio.
Já são quase dez, o corpo treme, a cabeça mantém o tísico equilíbrio das coisas, da razão da matéria em volta. O trabalho é necessário para que mantenha ao menos o sentido de libertação desperto, vivo.
Mas o mundo todo, todas as ruas e calçadas estão cobertas de papel e caixas de papelão, como se tudo precisasse ser limpo e guardado, há doença por toda a parte, há uma bagunça generalizada da qual nossos olhos se acostumaram. Me acostumei.
Dezoito horas e nada mudou de um quarteirão para o outro, de um parágrafo a outro... É tudo tão igual e permanente, não incita-se a permanência, mas o fim das coisas, o cessar da música e dos ruídos surdos que ouvimos no construir interminável de nossas vaidades.
Rogai o império, o falso império. Temei a luta, a ardil batalha. Não fomos melhores, só fizemos barulho.
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